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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Brinde

01.09.20 | Sandra

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À janela aproveito o ar fresco que o fim de tarde traz consigo. O céu apresenta-se com nuances aveludadas que vão do azul pálido ao roxo, passando pelo magenta e cor de laranja. Torna-se difícil perceber onde começa e acaba cada camada de cor que pinta o amplo horizonte. Aproxima-se o anoitecer gentilmente, cheio de sussurros. Mesmo por baixo da minha janela os pardais chiam, cada um escolhendo para si o melhor lugar para passar a noite. Aos poucos ficam mais silenciosos, mais sossegados.

Também eu estou mais sossegada nesta altura do dia. O silêncio, que se cola ao meu corpo como o perfume do banho que acabei de tomar, é apenas quebrado pelos sons dos melros e de uma ópera que vem de uma janela distante. Sento-me perto da janela aberta à praceta, com uma bebida fresca e um chocolate por companhia. Relembro, despreocupada e grata, o dia que foi. Há assuntos a resolver, preocupações que acompanham os vários momentos do dia, incertezas quanto ao amanhã. Não se podem esquecer nem relegar para segundo plano as responsabilidades.

Mas agora é altura de me dar a mim, de me olhar, ouvir, mimar. É o meu momento. Faz falta reconhecer as coisas boas que ainda existem, apesar dos "apesares". É preciso saber identificá-las, agradecer, entregar-se à beleza do que ainda possa existir. À nossa volta, dentro de nós. Respirar fundo, relaxar. Ergo o copo em direção ao céu bondoso de fim de dia, e brindo feliz: À vida, à fé, a nós! Tchim-tchim!

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