Lusco-fusco
Lusco-fusco. O dourado e o azul. O brilho das luzes que veste o crepúsculo, quando o dia diz o último adeus e parte devagar para longe, até ser hora de regressar novamente. Na última troca de olhares entre o dia que se afasta e a noite que vem, já se pressentem as ruas da cidade vestidas a rigor, entre cobres e dourados, cicatrizes escondidas na cor do âmbar, seres notívagos em esquinas marginais. Já candeeiros de rua espantam cansaços, e os edifícios repousam renovados frente ao rio que acalma, adormece discreto no silêncio da hora insolente. Lusco-fusco que faz o riso soltar-se, obturadores dispararem, brindes acontecerem e as horas abrirem-se a todas as possibilidades! Quando a cidade brilha mais, viçosa, atrevida; ou o campo é todo ele mais intenso, sons, cheiros, imensidão. Ou o mar... como o mar pede amor, o acontecer, na luz que atordoa sentidos e vontades. No lusco-fusco que tudo disfarça, caiem as palavras não ditas, as confissões não feitas, as interrogações não presentes. Porque tudo é ação, ser, estar, fazer acontecer. Tudo é movimento espontâneo, até mesmo na fotografia parada que imortaliza a perfeição do momento cheio de tantos sentidos!
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Nota: este texto surgiu como resposta a um desafio proposto pelo amigo Manuel, do blog "Generalidades",
https://blogs.sapo.pt/profile?blog=classeaparte
A foto aqui apresentada é de sua autoria e foi cedida gentilmente para acompanhar este "Lusco-fusco" (o nome da fotografia). Poderá, quem assim o desejar, ver esta excelente foto, bem como outras da mesma autoria, em:
https://goo.gl/photos/i1cUn3ZSGU5HvfXm8