Pardais
Mandam nos espaços verdes, citadinos, enquanto saltitam e debicam entre as linhas cruzadas do dia que passa. Insaciáveis na busca do algo mais, são fidalgos do sol que abate a brancura das pedras das casas e dos telhados de cada nação. Solenes, mandam discretamente nas gentes que passam, e das quais se aproximam altivos e corajosos, para questionar certezas e horas. Conhecem todos os mapas das árvores de tronco rugoso, descascado, e escutam como ninguém todas as dúvidas de cada cão que fareja cimentos e preguiças. Procuram algo que nem sabem o que é, mas que serve, pode ser! Ouvem todos os segredos das ruas, dos jardins, dos parques, e espalham-nos em telegramas enviados ao vento que lhes atiça as penas humildes e calmas. Seguros de si, a chilrear ordens e prepotências, têm na despedida do dia lugar marcado nos ramos das árvores, as suas camas sem pena, na friagem da noite sem dicionário. Enquanto dormem são águias, falcões, grifos, condores. É no silêncio do dormir do Homem que todos eles se tornam Fénix, para depois, no dia novo, nos outros tantos, nomearem-se Pardais. São consortes das horas que nos amarram a liberdade divina, e sabem ousar no tão pouco que têm e que julgamos ser nosso.