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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Feliz 2022

28.12.21 | Sandra

20211230_112817.jpgQue, no geral, o ano que está prestes a começar seja sinónimo de abundância de coisas boas, que nos surpreenda pela positiva, que seja "O ANO"! Que se dias menos fáceis vierem (porque às vezes há dias assim), que sejam poucos e fáceis de superar. Que 2022 nos traga ao longo dos seus dias:highlight_1642197009356.jpg

px-downloadg658796c075df7b3e51a276b1943bacb59b1d93   FELIZ ANO NOVO! Tchim-tchim!

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Outra Vez, Nós

21.12.21 | Sandra

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Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios.

Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes soltos pela chuva tombada na madrugada acompanham as nossas conversas a passo calmo. O frio não nos incomoda, pelo contrário: desperta-nos, faz-nos atentos aos musgos, às heras, ao chão forrado de tons quentes e acomodados ao final de mais um ciclo.

Primavera, verão, outono, inverno, a ordem natural e perfeita imposta pelo universo, para nos mostrar que há um tempo definido para tudo, e que tudo tem o seu próprio momento...

Esta é a estação dos vagares, e entre a pausa das chuvas e dos ponteiros do relógio, sobre as folhas encharcadas e moles caídas ao chão, poesia e amor tornam-se um só elemento, escrito com as mesmas letras que percorrem o colorido ameno dos dias lentos, vazios de pressas, e cheios da singularidade própria da Serra que olha o mar agreste do Guincho.

E enquanto deciframos o outono que nos aconchega um no outro, a nostalgia cede, e o tempo constrói-se de novo só para nós. Afinal, o amor pode saltar por cima do tempo, simplesmente para chegar e permanecer. Ainda é outono: regressamos a nós, e é tão bom estar contigo!

Feliz Natal

16.12.21 | Sandra

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Tenho uma interpretação muito singular (e não será das mais bonitas) acerca da época festiva vivida em torno do conceito de Natal. 

Ainda assim, e não querendo quebrar a tradição, quero desejar-vos, a todos e a cada um de vós, festas felizes! Principalmente aqueles que por motivos alheios à sua vontade (motivos válidos!) não podem viver o Natal da forma que mais gostariam, ou mereciam! A esses, um abraço especial!

O presente que vos deixo é o desejo de que se sintam não só mais próximos dos outros, mas também de vós mesmos, na certeza de que têm mais do que tarefas a cumprir neste mundo: têm também o vosso próprio valor, os vossos direitos e os vossos sonhos.

"Sem esqueceres uma justa disciplina, sê benigno para ti mesmo. Não és mais do que uma criatura no universo, mas não és menos que as árvores ou as estrelas: tens direito a estar aqui."

Feliz Natal!

 

 

E Nós, de Novo

12.12.21 | Sandra

4284120_S.jpgEncontro-te na manhã de um céu feito de azul imenso. O orvalho enche o chão de cristais que brilham sob um sol desperto, rasgado pelas asas das primeiras aves que se soltam às horas novas. Caminhamos por entre as árvores do teu jardim, ignorando a friagem húmida que desce a encosta da Serra temperamental, enquanto o Palácio da Pena ainda dorme lá no alto, enregelado, esquecido do tempo. Lá em baixo, ao fundo, o mar do Guincho, completamente parado aquela distância. Na linha do horizonte, as névoas que se dissipam como fumo no avançar lento do dia, cheio das promessas que nos pertencem.

Apanhas algumas flores que me ofereces de alma imensa, como na primeira vez em que estivemos juntos, e regressamos ao aconchego da tua sala cheia das tuas viagens e excentricidades, com vista para a Peninha e as suas lendas. E há tanto a falar...!

Encontro-te, e de novo, nós. Agora, o absoluto da certeza de que foste sempre tu, ninguém mais senão tu, para além dos enganos e devaneios. De novo, nós. Na manhã fresca e serena, no calor da tua sala que tão bem me conhece, entre o agreste da serra e a frescura do mar, está tudo como deve estar. Gosto mesmo de ti!

Convergente

06.12.21 | Sandra

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Sim, não és dono do tempo.

Nem das estruturas onde o mundo assenta,

Ou a poesia pousa.

Não és dono das certezas que passam apressadas no vento,

E que mudam mais rápido que as estações do ano.

Nem sequer és dono dos verbos que conjugas,

Da fé dos homens,

Ou das marés que cedem aos caprichos da lua.

Mas ah!,

Como és dono das longas e místicas brumas,

(Pelas quais eu me apaixonei) 

E da noite,

Esse mundo que se esbarra contra o oculto e o alegórico,

Impregnado de simbolismo e reencontro

Com o nosso lado mais humano, primitivo.

Sim, és dono da noite.

Compreendo-te bem!

É inevitável deixá-la à parte,

Quando tem tanto de eloquente!

Mas a noite sabe mais do que tu e eu!

Coisas maiores, mais importantes!

Verdades supremas!

A minha noite faz-se de nós, 

E hoje

Eu pinto-a com essas tuas brumas,

As tais que vieram contigo quando chegaste de longe.

Talvez um dia, numa noite de cerradas névoas,

Escrevas palavras bonitas sobre mim 

E lhe chames Prosa poética!

Ou então,

Talvez a noite se torne ciumenta 

E te guarde só para ela.

Faz sentido!

Tudo parece convergir a esse mundo escuro,

Que só se mostra quando o sol se esconde...

Letras

02.12.21 | Sandra

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Há letras que aparecem pela calada da noite, quando lá fora tudo é silêncio e o tempo está suspenso no frio. Chegam devagar, de forma aleatória, e sentam-se à minha volta. Primeiro uma única letra, tímida, solitária, sem pressa; depois, outra. E outra. Aos poucos, mais algumas, desta vez aos pares, curiosas. Até que toda eu estou cercada por letras. Na alma, na mente, no coração.

Pego nelas, maiúsculas, minúsculas, vogais, consoantes. Crio significados, tempos verbais, opostos, infinito, o teu nome. Ai, o teu nome! Se essas letras soubessem o que carregam com elas! Não são só os traços criados pelos sumérios, na Mesopotâmia; ou a força que definiu uma ordem, dando origem ao primeiro alfabeto. Cada letra do teu nome carrega nela os ecos que atravessaram cordilheiras geladas e desertos tórridos, para chegarem com urgência à folha de papel onde escreves, e serem prosa poética ou poesia. As letras do teu nome... brinco com elas. Junto-as, aparto-as, junto-lhes mais letras, mudo-lhes a ordem. E quando dou por isso, já não são só letras. São sentimentos, história, memórias, alegrias. São sílabas vagabundas, livres, à solta no tempo e no espaço, que me dizem de forma clara e ordeira que gosto de ti. Tu sabes, não sabes? Se compreendes a noite, da qual és o senhor, saberás certamente!

Quando adormeço finalmente, as letras, uma a uma, devagar, dissipam-se todas elas no ar quente do quarto adormecido e transformam-se em sonhos que tenho, onde tu estás. Tu sabes que és tu, pois as tuas brumas, que em tempos chamaram-me a ti no meio da noite, também um dia estiveram cheias de letras como as minhas. E tu pegaste nelas.