Sim, não és dono do tempo.
Nem das estruturas onde o mundo assenta,
Ou a poesia pousa.
Não és dono das certezas que passam apressadas no vento,
E que mudam mais rápido que as estações do ano.
Nem sequer és dono dos verbos que conjugas,
Da fé dos homens,
Ou das marés que cedem aos caprichos da lua.
Mas ah!,
Como és dono das longas e místicas brumas,
(Pelas quais eu me apaixonei)
E da noite,
Esse mundo que se esbarra contra o oculto e o alegórico,
Impregnado de simbolismo e reencontro
Com o nosso lado mais humano, primitivo.
Sim, és dono da noite.
Compreendo-te bem!
É inevitável deixá-la à parte,
Quando tem tanto de eloquente!
Mas a noite sabe mais do que tu e eu!
Coisas maiores, mais importantes!
Verdades supremas!
A minha noite faz-se de nós,
E hoje
Eu pinto-a com essas tuas brumas,
As tais que vieram contigo quando chegaste de longe.
Talvez um dia, numa noite de cerradas névoas,
Escrevas palavras bonitas sobre mim
E lhe chames Prosa poética!
Ou então,
Talvez a noite se torne ciumenta
E te guarde só para ela.
Faz sentido!
Tudo parece convergir a esse mundo escuro,
Que só se mostra quando o sol se esconde...