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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Carnaval

27.02.22 | Sandra

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Na noite incauta despertam a folia e o exagero. Pelas ruas e salões de baile apinhados, a música embate nos risos e trajes resgatados aos séculos e às tradições. Máscaras carregadas de detalhes coloridos e simbolismo escondem rostos, preocupações, até mesmo, intenções. Ai carnaval...

Desfilam lado a lado a religião e o paganismo, ante os olhares de desdém de quem não aprecia as festividades, mas que não resiste a mirar com verdadeira curiosidade quem celebra o entrudo, chegando ao ponto de elogiar certos adornos mais elaborados.

Arlequins desfilam agora ao som dos pandeiros, e nem a luz forte dos candeeiros de rua consegue rivalizar com os brilhos das lantejoulas e purpurinas, das sedas e cetins. Apesar do calor da noite, não se veem estrelas no céu. É como se assustadas com todos aqueles excessos vazios de pudores ou remorsos, tivessem fugido afogueadas para longe. Ou então, foram festejar o carnaval para junto dos deuses de outrora, gigantes com nomes atribuídos aos planetas, e que figuram em lendas e mitos intemporais.

O frenesim da noite há-de abrandar com a chegada da madrugada, que se impõe com indiferença à data festiva, e só mesmo o chão forrado de serpentinas e confetes servirá de prova da loucura da noite que passou. Por essa altura, e já a pensar no próximo ano, alguém começará a planear novos desfiles e sátiras sociais, que nos recordarão as palhaçadas que desfilam à descarada na nossa sociedade. Como se fosse possível esquecer tal coisa... 🇺🇦

 

Certos Como Uma Capicua

22.02.22 | Sandra

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Hoje, abraço-te.

Abraço-te num abraço sem planalto nem cansaço,

Flores soltas,

Beijos carregados na euforia de um regaço

Onde pousam conjugações já nossas.

Abraço-te,

Na certeza de que fazes parte das sílabas que solto na escrita,

Numa equação voraz de vontades e interrogações.

E penso-te,

Na certeza de que para além do hoje,

De novo estarei contigo para de novo haver o abraço,

Desta vez sereno, de alívio e gratidão,

Entre o teu cheiro e o mundo todo nesses teus olhos de infinito,

Certos como uma capicua!

Acordas-me

18.02.22 | Sandra

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Acordas-me e acorda o dia, também! Ser assim acordada por ti é encontrar tudo como deve ser, tudo como deve estar, cada coisa no seu pleno lugar, na profunda certeza de que coisas boas acontecem!

E não preciso de nada mais senão continuar a ser assim acordada por ti, sentido único de mim! Palavras voam por aí, sobre a inocência bravia dos campos e os telhados húmidos da friagem da noite...
Palavras voam por aí, ligeiras como aves de rapina porque acordas-me, o dia acorda também, e nesse preciso instante não preciso delas, das palavras.
Porque tu, que és mais que tudo, tu chegas-me! Amor, amor, amor, Deus contigo!

Sabes?

14.02.22 | Sandra

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Tenho em mim a certeza da tua noite. O céu apresenta um tom que se divide entre o azul e o lilás, e parece estranhamente brilhante, todo ele por igual. Ah!, se aqui estivesses! Quantos poemas poderiam ser recitados numa noite assim, que parece colocar tão perto tudo o que está para além do que nos é visível: galáxias tremendas, estrelas poderosíssimas, forças monstruosas, explosões imensuráveis. E o silêncio, um silêncio imenso, quase palpável, cheio de tanto e de nada!
Não sei como estás. Talvez só por hoje te tenhas transformado nas tuas próprias névoas, e é por isso que esta noite o céu parece macio e iluminado. Sabes? Gosto de ti.

Aceito-te

10.02.22 | Sandra

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O nevoeiro murmura palavras que me levam a ti, palavras com uma sonoridade ímpar que ressoa de tal forma pelos cantos do mundo que jamais deixará de ser ouvida.

Conheço-te bem, desde tempos já há muito esquecidos porque há muito que deixaram de ser contados pelo Homem no calendário, ou no girar lento das constelações. Mas conheço-te, e chegas de novo hoje nesta maré feita de cerradas névoas, que vão e vêm como ondas cheias de velhas histórias, e que despertam os imensos verdes dos campos, os dourados das folhas, o amarelo das derradeiras flores e dos novos frutos.

Em vão tinha procurado por ti desde a madrugada adormecida. Em vão... Alcanças-me tu agora nesta neblina que chega calada, com uma força igual à da gravidade e que me puxa a um teu querer, mais antigo que tudo. Deixo finalmente para trás todos os enganos (tantos!) e aceito-te, a ti.

Passo a ser parte integrante da enorme paz que me transmites, da serenidade da manhã ainda tão nova e inocente, do poder que a natureza exerce sobre quem a compreende, de todas as imensas forças que fazem o mundo girar na sua órbita e ter algo belo, apesar de tudo. Aceito-te. É quando sílabas à solta renascem, junto com algo chamado Fé...

Desafio da Lu, Aqui há Coração

07.02.22 | Sandra

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Aceitando o desafio da Lu, em aquihacoracao, aqui ficam as minhas respostas:

 

Quando era pequenina(o) o que desejava ser quando crescesse?

Professora.

Cor preferida?

Qualquer cor considerada tom quente. Escolho para este desafio o âmbar. 

Uma palavra/frase a que recorra muitas vezes?

"A sério?!" 

Uma atividade que goste muito? 

São muitas, todas elas relacionadas com criar algo, ou com o poder desfrutar da companhia de quem mais gosto.

Um lugar que adorasse conhecer?

Muitos, e muito diversificados uns dos outros. Neste momento, desses lugares escolheria Santorini. Ou o Alentejo! Só pode ser um? Alentejo!

Algo que goste imenso de comer

Pão alentejano com manteiga. (Adoro!)

Se pudesse mudar apenas uma coisa em mim o que seria?

Ser menos egoísta.

Escolhe uma palavra que te defina!

Têm que ser duas, porque são o meu propósito e não sei ser uma sem a outra: Cuidar e Proteger.


Nota: A Lu estendeu este desafio a todos os que nele quiserem participar. Basta só publicarem as perguntas e respostas nos respetivos blogs, mencionando o desafio!

Discordando

02.02.22 | Sandra

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Lembro-me de um dia eu e tu termos falado sobre Poesia, discordando sobre o que ela deveria ser. Pois bem, ao fim deste tempo todo mantenho a minha palavra: a Poesia quer-se livre, indomável, agreste! Não tem que obedecer a regras ou parâmetros. Nem sequer tem que fazer sentido, até porque a Poesia pertence a todos - não só a quem a escreve, mas também a quem a lê - e, como tal, tem nela todos os sentidos que lhe quiserem dar. Cumpre assim o seu desígnio, torna-se aquilo que nasceu para ser: o reflexo e a extensão da alma de cada um!

A noite cai vertiginosamente. O céu enche-se de estrelas, e já subiu ao alto uma lua em forma de foice. Não consigo suportar mais o frio da rua. No caminho de regresso a casa passo perto do pessegueiro em flor. No tempo certo dará os seus frutos, apesar de que no final alguns irão cair ao chão tombados pelo vento, outros serão comidos pelos pássaros e por insetos. Outros ainda, acabarão por apodrecer e mirrar nos ramos. Mas ainda é cedo, para já a árvore encontra-se toda ela coberta por enormes e belas flores, admiradas e fotografadas por todos os que por ela passam!

Como sempre, tenho o carro estacionado mesmo ao seu lado. Verifico se está tudo bem e vou-me embora. Enquanto me afasto, continuo a defender mentalmente a liberdade da Poesia, seja ela sobre solidão, estrelas ou pessegueiros em flor. Afinal, ela faz-se presente um pouco por todo o lado, até mesmo neste frio impiedoso que rasga a pele, ou na minha escrita que não consegues compreender.