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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Se For Bom, Que Seja Para Ti

25.03.22 | Sandra

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Chegaste de um mistério que só agora compreendo. Desvenda-se o segredo: é feito de amor, este amar! E o minuto avança, e o céu muda de cor, excede-se em grandeza numa dança superior de translúcidas palavras ainda não inventadas, que dançam do teu nome ao meu!

Letra sobre letra, descodifico a beleza que és tu, e eu, ai eu!, como te gosto tanto, ainda mais!
Se for para acontecer, que seja bom; se for para ser bom, que seja para ti, e tudo o resto pode e deve ficar só para mim, que eu estou bem!

E ninguém, ninguém!, me poderia avisar de que tamanho a alma iria ficar quando esta alma deserta de mim e volta e meia negoceia por ti em nome de um amor maior, nó cego entre lua e sol.
Se for para acontecer, que seja bom. Se for para ser bom, que seja para ti, e tudo o resto pode e deve ficar só para mim, que eu estou bem!

Dia Mundial da Poesia: Cabe na Poesia

21.03.22 | Sandra

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Cabe na Poesia o sonho,
Os caminhos e as estrelas,
Os silêncios dos abraços,
As crianças e esperanças,
Todas as pedras das pontes,
As gentes, os horizontes
As lutas da Humanidade,
E as vitórias do dia.

Cabem na Poesia
Os provérbios antigos,
As grandes invenções,
Lendas e orações,
Os nomes de velhos profetas
E dos novos poetas,
Os desertos e os segredos
As penitências e a gratidão.

Cabem na Poesia
Os desafios e desabafos,
Os acordes da guitarra,
Os pombos do jardim,
As cores do arco-íris,
Este universo que nos espanta
E o filho que se ama!

Cabem na Poesia
O cantarolar e a natureza,
A minha escrita e a tua,
Todo o mistério de Deus,
O Homem e o Mundo.
Onde cabe a Poesia
Cabe a Primavera,
Porque a alma é coração:
Também respira!

🙏

Destinado

18.03.22 | Sandra

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... As estranhas nuvens soltaram a chuva que caiu noite e dia sem parar. Os primeiros rios da Terra encheram-se de vida. Campos tornaram-se férteis e cobriram-se de cereais. As árvores cederam o descanso dos seus ramos aos bandos de aves migratórias cansadas de voar. Animais de grande porte caminharam em fila pelo interior de densas florestas, abrindo caminhos por onde antes ninguém passara. Baleias deslizaram pelos oceanos e os seus ecos chegaram aos novos continentes. Ouviram-se vozes ao longe e a Humanidade preparou-se para nascer.

O mundo de então expandia-se a um ritmo que acompanhava o surgir de novas palavras, conceitos, ideias. E o universo, por detrás de interrogações e orgulhos secretos, já sabia de ti, destinado que estavas a dar um sentido maior aos dias que Deus me emprestou para serem por mim vividos, e que carrego no bolso da alma, que é tua também...

A Paz que Declaro a Mim Mesma

14.03.22 | Sandra

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A manhã está fria. Um céu cinzento e pesado escurece o arvoredo, os caminhos, os bancos de jardim vazios e as horas que marcham indiferentes ao tempo.
Abrigo-me na certeza de que hoje posso descansar, ainda que uma parte de mim se mantenha, de forma subtil, alerta. Pela janela aberta entra o barulho da rua, vidas que se agitam para mais uma semana que se inicia. Por entre a erva alta do jardim saltitam lado a lado pardais, rolas e melros, arrepiados do frio suportável mas inesperado, e os ramos que dançam felizes ao vento fraco cobrem-se de rebentos da cor do fim da estação. Em breve o ar encher-se-á de bolas de pólen branco e felpudo, a voarem como flocos de neve ou borboletas distraídas, e as primeiras andorinhas chegarão finalmente, altivas. Em breve...

O café que bebo à janela não é suficiente para me convencer a sair à rua. Em vez disso, faz-me procurar o aconchego de casa, do casaco quente, da manta macia. Faço somente o essencial, e decido que hoje o dia será dedicado ao descanso sereno, à transparência da fé, do acreditar, ciente de que as nuvens que cobrem o céu podem também ser apreciadas pela sua singularidade e beleza próprias, mesmo que não deixem o sol aquecer corpos e almas.

Olho as horas. Já acordaste? Provavelmente não, dormes até tarde, mas sei que a tua mente se mantém cheia dos teus afazeres, não havendo espaço para as coisas frágeis, próprias do mundo do sonho, do imaginário. Contudo, sei que também sonhas, também esperas e acreditas, mesmo que a parte mais rebelde de ti negue tais conceitos.

Tanto faz! Um dia conheci esse teu lado que empurras para o limbo obscuro dos dias e das noites, tentando fingir que não existe, e foi precisamente esse teu lado que me levou a sentimentos que ainda hoje me agradam, e que têm a sonoridade quente da tua voz.

Neste dia em que declaro paz a mim mesma, trago esses sentimentos ao de cima, juntamente com o teu nome e esse lado sensível teu, que escondes até de ti mesmo como um mapa de um tesouro que jamais deve ser encontrado, jamais!

Na minha imaginação, divido o calor da minha manta macia contigo. As nuvens afastam-se agora, sob o poder de um sol que teima em brilhar à vista de todos.

🇺🇦

Olá, Como Estás?

09.03.22 | Sandra

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Olá, como estás?

Sim, sou eu,

Do outro lado do espelho.

Tu não me vês quando vês nele os teus traços,

Mas sim, estou aqui!

Olá, como estás?

É sempre um prazer encontrar-te,

Quando fascinado te olhas

Neste reflexo prateado!

Tu não me conheces,

Somente a tua imagem,

Que num pedaço de vidro frio,

Espelhado,  

Te contempla de volta

Num olhar etrusco, prudente,

Gelado,

Sem alma de gente...

Amar-me-ias como amas

Quem ao espelho tu admiras,

Quando nele olhas para ti?

Então ama-me!

Abraça-te primeiro

Num aperto esfuziante

E ama-me depois,

De forma demorada, por inteiro!

Olá, como estás?

Não precisas responder,

Afinal esse alguém,

O teu reflexo cordato

Por ti próprio admirado,

Sou eu quem o reflete

Por detrás do vidro

Louco, sagrado...

Olá, quem és?

Não sabes...

Eu descubro!

🇺🇦

Recados Que Te Deixo #2

07.03.22 | Sandra

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O Universo é o universo: sóbrio, concreto, conciso. Pura matemática, física e química. Não dá para grandes margens. É aquilo e mais nada. O Homem esse sim, movido pelo instinto de sobrevivência e pela curiosidade, procurando alcançar certezas sobre o espaço imenso que o acolhe, cria lógicas, padrões, significados. Justificações. E tudo se torna seu conhecimento, seu poder, havendo cada vez menos lugar para o espanto e o deslumbre, para a simplicidade do inexplicável mas belo.

Resta a Fé, e eu tenho uma fé tremenda no meu Deus. Talvez seja essa a cola que une todos os fragmentos que têm ficado pelo caminho de todos nós, e que promove um sentido maior a tudo: a Fé!, mesmo que de forma abstrata, inconstante ou inconsciente.

O resto? Brindem-se as boas recordações, os bons momentos presentes, e a coragem de quem é capaz de atravessar a passadeira para o outro lado, por vezes obscuro e desconhecido, alcançando novas dimensões da sua própria fragilidade enquanto humano.

Afinal, é a fé que por instantes nos faz abstrair de quem somos, impele-nos a prosseguir, empurra-nos para lugares que nos fazem sentir pequenos, e entrega-nos de volta a nós mesmos, renovados, leves, inteiros... E gratos!

O recado que te deixo é este: sejam lá quais forem as tuas crenças, a ti, que tão belo és, na razão de ser de toda a minha fé desejo-te grandes vitórias, grandes alegrias e grandes milagres. Porque milagres acontecem, mesmo quando menos os esperamos...

🇺🇦

Não Respondo

04.03.22 | Sandra

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A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um silêncio abafado.
Os globos poeirentos dos candeeiros de rua atraem insetos, traças, enquanto no alto da serra o Palácio tudo observa, iluminado, sob o voar cauteloso da coruja que persegue a sua presa.

Não sei como é a tua noite. A minha tem o cheiro da resina e da maresia, da terra remexida e da hera fresca. Não sei como é a tua noite, mas sei que eu e tu olhamos o mesmo céu, as mesmas estrelas. A noite conhece-te bem, desperta-te. Desta vez, também a mim me despertou. O banho tardio que decido tomar leva-me a ti. Pensas em mim, último dos últimos? 

Na água quente que se deixa levar pelas ruas do meu corpo, estão as tuas mãos vadias, feitas desta noite etérea, com os seus sons e brilhos, das tuas brumas de sempre, dos estranhos sonetos que escreves com um cigarro solitário por companhia. Há tanto tempo que deixei de ler o que de ti partilhas...

O vapor de água que me cerca pergunta-me por ti.
Sou caprichosa, não respondo. 
Não me apetece. 

🇺🇦

E, De Novo, o Mundo Faz-se Pequeno...

01.03.22 | Sandra

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"Estamos cercados de desespero
E continuamos à espera que alguém se importe.
As cidades e vilas estão arruinadas no seu núcleo,
Assim como nossos corações e almas."
Daria Chebotariova, 14 anos, UCRÂNIA

 


Plataforma “We Help Ukraine”:
www.wehelpukraine.org

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https://youtu.be/H6k082A-MLo