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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Talvez te Reencontres

27.05.22 | Sandra

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Embala-te comigo no embalo das primeiras horas do dia, quando os nossos corpos dormitam ainda na claridade que acorda devagar.

Embala-te e aconchega-te em mim, só mais um pouco. Na preguiça das horas, repete baixinho aquelas palavras que ecoam desde a formação do universo e que são agora poema, serenata, ou a tela de um pintor que ama.

Fala-me sem pressa sobre passear no areal numa manhã de nevoeiro cerrado, ao som do farol, quando as gaivotas são donas da praia e da verdade; ou sobre como é estar abraçado a alguém em silêncio, a apreciar a hora lenta do crepúsculo, quando candeeiros de rua se acendem e promessas se cumprem. Fala-me do calor, e daquelas noites que nos transportam a algo muito maior que nós, humanos. E ama-me então, se puderes.

O mundo esqueceu-se facilmente do poder da palavra doce, do murmúrio que sabe a embalo, do aconchego entre corpos ou almas. Talvez o eterno movimento de expansão do universo, tão discutido entre cientistas, arraste consigo a capacidade de nos sentirmos bem com pequenas coisas, que nos pertencem por direito próprio desde o momento do nosso nascimento - porque nos são realmente importantes e necessárias.

Mas esquece, por agora. Simplesmente aconchega-te em mim e deixa a vida recomeçar neste verão que se aproxima. Talvez te reencontres e sejas feliz, na medida do possível. 

 

Ao Ler-te

19.05.22 | Sandra

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É uma fuga de nós mesmos, mas que acaba por nos conduzir a quem somos: não apenas gente entre gentes, mas algo mais concreto, que oscila entre o animal, o humano e o divino. É isso que sinto ao ler-te: a fuga, o mistério, a sensação de descoberta, o reconhecimento de algo maior.

Leio-te sob o silêncio da noite que gira em torno de uma lua extremamente poderosa - porque é ela livre dos desejos e dos caprichos humanos. Nesse silêncio leio-te, sempre e mais um pouco, até eu mesma ser a textura das tuas palavras, até fazer parte do calor das entrelinhas que deixas, e que deslizam vagarosamente pela minha pele, pontos cardeais teus arrepiando a alma e provocando os meus sentidos.

Leio-te e permaneço sempre menina-mulher, aquela que à noite despe de forma apressada roupas e segundos passados, para se vestir com a urgência das letras do teu nome. E a lua tudo vê...

 

Praia Minha

09.05.22 | Sandra

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Não há grão de areia que não conheça o peso dos teus passos, nem gaivota que não reconheça a tua silhueta contra o céu aberto que te vê passar.

O mar conhece-te bem. Não um mar qualquer, mas esse feito de águas vivas, marés temperamentais, que facilmente se exaltam perante os humores da lua ou os caprichos do sol.

Também eu conheço-te bem. Tens a essência das ondas que se confundem com o horizonte, do perfume das algas agitadas contra as rochas, e dos traços perfeitos das conchas vazias e quebradiças, que se entregam à areia seca para nela se desfazerem. Conheço-te tão bem quanto as palavras que trocas neste preciso instante com a rebentação, e que parecem estar sempre a remoer baixinho sobre tudo o que foi e o que poderia ter sido. 

Conheço-te bem. E desde o primeiro de todos os dias, há tantos anos atrás, reconheço-te como essa praia que será sempre mais tua que de outro alguém. Porque foi nela que te reinventaste para que eu te descobrisse tal como eras: praia minha. 

Procuro-te

03.05.22 | Sandra

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Pressentimentos levam-me a ti. Em passos indecisos chego ao teu nome. Tímida, deixo-te palavras fugazes. Sempre tu. Nem sei outro caminho que não este...

Estou aqui, dentro de um silêncio que é todo teu, quando o sol espanta o fluir da escrita que se dissolve nua no papel.
Pressente-me. Procura-me. Lê-me nas evidências escondidas. Sou o não dito, os sentimentos derrubados como sílabas à solta em entrelinhas disfarçadas de nada.

Chama-me naquele segundo efémero em que a poesia e prosa se entrelaçam, e o amor se cumpre. Um apelo teu feito flor do campo que me envias. Guardarei na minha pele cada pétala caída das palavras que me deres.

E procuro-te, procuro-te sempre.