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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Não é Verão?

24.06.22 | Sandra

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Se eu gosto de ti e tu de mim, porque não? É este o tempo e a praia sabe de nós.

Podemos sentar-se na areia macia ao toque, dourada e quente sob a luxúria do sol estival. Podemos nela fazer desenhos, construções (um palácio árabe?), escrever palavras cujos sentidos só nós conhecemos, e sermos rosa-dos-ventos em pleno verão. Gaivota ao alto em mapa astral traçado por ti...

Podemos ouvir o mar cantar e, quando finalmente tivermos compreendido a letra, cantar juntamente com ele as canções que falam de sereias, de tesouros afundados e das cidades esquecidas do outro lado da linha do horizonte. Ou então podemos apenas entrar na água, sermos o próprio sol que se reflete nas nossas peles molhadas, ou as algas que ondulam ao sabor desinibido da maré. Dois corpos, um abraço...

Quando cansados, regressaremos à areia que tão bem nos conhece e ficaremos a aguardar sem pressa o silêncio e o crepúsculo, a noite tropical que vem de longe cheia de ousadia e promessas. Tenho uma ideia: que tal um piquenique sob a lua e as estrelas, quando os Deuses desenham nos céus constelações imensas e archotes acendem-se no areal, enquanto não muito longe dali uma guitarra toca?

Depois? Existem aquelas horas sem compromisso, de sabor exótico e cheiro a calor! São de todos e não são de ninguém... podemos ficar com elas para nós, afinal as nossas vidas estão sempre tão cheias de tanto! Que os cansaços e desafios fiquem esquecidos por algum tempo! Que a tua mão procure a minha, que a minha mão se feche na tua, e que a noite dure todo o tempo que nós quisermos! Não é verão afinal?

Ainda Bem!

17.06.22 | Sandra

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Sem um aviso prévio chegaste, numa simbiose perfeita que nesse instante imediato se arrastou por entre sílabas minhas.
Chegaste com a rapidez dos segundos do mundo e com a força da trovoada que rasga os céus no auge do verão, trazendo na tua alma a urgência do amor. Talvez isso tivesse sido determinado há muito tempo (quando o tempo ainda não contava) por algo ou alguém que já nessa altura sabia muito mais do que nós. E apanhaste-me desprevenida...

Eu, saber bem como, dilui-me em cada um dos traços teus feitos de poesia e prosa, e que ainda hoje são maré viva em mim. Nem podia ser de outro jeito, não depois de termos ficado face a face...
Pois bem, ainda bem que chegaste! Ainda bem, porque gosto de ti!

Viajante do Mundo

09.06.22 | Sandra

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Ao viajante do mundo, a quem dedico este meu blog...

Ainda não parou de chover, uma chuva vagarosa e demorada. A Serra dorme profundamente, e o mar do Guincho está parado. É fácil sentir todo o peso da noite alta e do silêncio ao nosso redor, onde sobressai o cheiro da terra molhada, do musgo, da resina dos pinheiros. E a escuridão acima de nós é imensa...

Candeeiros de rua mandam calar passeios, estradas, telhados molhados, esquinas vazias - porque é tarde. O canto de aves notívagas acompanha os nossos passos pela hora avançada da noite que nos conduz de regresso à tua propriedade. Pelo caminho falas-me dos lugares do mundo por onde andaste (foram tantos!) e, sem o saberes, levas-me a outros sítios por onde eu andei e que só eu conheço...

A tua sala acolhedora. Temos pela frente o arrastar do tempo que se estende até à madrugada que há-de clarear os céus, trazendo no peito o peso fecundo das nossas palavras não ditas. Ainda...

Por ora sou todos esses lugares que visitaste, e enquanto lá fora a chuva continua a cair deixo que me descubras devagar, com dedos peregrinos que se passeiam por um corpo feito das horas transparentes que passam por nós. E passo a chamar-te Viajante do Mundo.

Se?

05.06.22 | Sandra

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Se eu for ter contigo, abraças-me?

Deixas que os nossos corpos juntos nesse enlace

Esqueçam os olhares curiosos de quem por nós passa 

E se juntem ainda mais

Na ansiedade muda um do outro?

Se eu aceitar dar-te a mão,

Levas-me pelas ruas abertas

A ver casas, montras e jardins,

No sol risonho que aquece este inverno

Despido de tremores e brumas?

Se eu te pedir com jeitinho,

Contas-me as histórias do teu bairro,

Das suas gentes e vidas?

Se eu deixar que sem pressa acaricies o meu cabelo,

Quando for a minha vez de falar,

Dás-me um beijo repentino?

Fazes isso, se eu estiver contigo?

E depois dás-me uma flor?

Ou um poema,

Que é bem melhor?

E serei sorriso, impulso,

Perdida e encontrada no castanho-terra do teu olhar

Que me leva ao finalmente!