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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Ciclos

28.07.23 | Sandra

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Fim de dia. As mesas do café estão todas ocupadas. A soma de todas as vozes descontraídas que nos rodeiam saturam o ar numa confusão alegre. O inesperado movimento teu que mantém as nossas mãos abraçadas uma à outra, por um momento e outro mais, surpreende-me positivamente.

O tempo que nos cobiça como a fera cobiça a sua presa, leva as nossas mãos a desfazerem com relutância o abraço que as unia porque é tarde, pelo menos assim nos dizem os nossos afazeres ainda por cumprir. 

Soltas as nossas mãos, um olhar. O olhar. O parar do pêndulo do relógio que governa o mundo. De novo, o mesmo olhar a ligar-nos. Um toque ávido entre um e outro. Intenso. Uma corda que vibra, fazendo outras cordas vibrarem dentro de nós. Tudo aquilo que é dito no silêncio cru que se senta connosco, torna-se um significado amplo que só nós compreendemos. 

*

A procura urgente de um refúgio entre sombras que se fazem e desfazem só para nós, porque precisamos estar juntos - e sós.
O calor extremo na tarde encoberta. Roupas coladas aos nossos corpos. Um beijo. O beijo. Uma espécie de corrente elétrica que passa de um ao outro, por dentro e por fora dos nossos corpos, como o pressentir do relâmpago que está prestes a rasgar os céus antes da chuva cair com toda a sua força. 

Por fim o abandono, a entrega ao inevitável, eu e tu. O tempo tombado no chão como confissões feitas à pressa: passado, presente e futuro num só mesmo respirar. Finalmente, o reencontro e reconhecimento de almas: o cumprir dos nossos próprios ciclos um no outro. 

Encontro Improvável

01.07.23 | Sandra

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Da minha janela vejo a lua

(Altiva, lá no alto)

E o gato que dormita sob as estrelas,

(No relvado, lá em baixo).

Entre o espaço que se estende

Da lua até ao gato,

Há o cheiro de trovoada,

Tango, em tarde quente,

Amor louco, feito capricho. 

Da minha janela vejo a lua.

Vejo o gato, também. 

Nem um nem outro me vê, 

Discreta que estou eu,

No parapeito morno da noite nua.

Fecho a janela, é tarde,

Até para o sono que já lá vem.

Levanta-se o gato,

Desce a lua,

É encontro improvável que se dá,

Agora que estão sós sem mim!

Desconheço o desfecho:

Adormeço.

Lá fora, o gato mia.

Eu? Sonho contigo...