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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

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Manias de Gato

03.11.20 | Sandra

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Era um gato único. O tempo que passei com ele foi suficiente para ver de que moldes era feito. Feroz, conquistou-me. Daí, um dia apanhei-o desprevenido, fui atrás dele, agarrei-o com as  duas  mãos e atirei-o sem piedade para dentro do meu blog. Falei dele há uns tempos atrás. Hoje, trago-o aqui de novo...

Havia um gato. Na altura, em que o vi pela primeira vez, destacou-se a sua personalidade muito própria. Senhor do seu nariz, cumpria ele o papel de Dono da casa, como se tudo fosse seu: paredes, mobílias, decoração e o próprio ar que ali se respirava. De tudo se considerava dono: dos herdeiros da casa passada de geração em geração, dos visitantes, de outros bichos que lá habitavam, sonhos, conversas, ideias e até do fantasma da casa. De tudo, ele era dono e senhor.

Por muito tempo deixei de ver esse nobre felino. Até que certo dia fiquei frente a frente com ele. Reconheci-o logo, esse gato sem igual. Olhou-me do alto da sua pequenez, soltou um miado enfadonho, e virou-me costas petulante, superior, não sem antes mirar-me de alto a baixo.

Agora, mais velho, costumava ficar deitado na mesa de pedra do quintal, ao lado do limoeiro. Cismava horas sem fim. Fazia-lhe confusão as confusões que Trump criava, lá longe. Tal como lhe fazia transtorno este vírus poderoso, cá perto. O sol torrava-lhe o pelo e ele, macambúzio, dali controlava as horas e as tendências da moda, os golpes políticos, as reviravoltas desportivas e a ficção nacional.

Costumava impor um ar sinistro a quem o mirava. Pensava assim aparentar um ar mais aristocrático, e ter direito a melhor e mais quantidade de comida. Porque até esse mesmo momento era pautado por um exacerbado gesto de desgosto! Nada era do seu agrado. Arrogante, orgulhoso, fingia não ter apetite e ignorava o seu prato. Ruminando a sua fúria, recusava-se a comer. Mas assim que as pessoas se afastavam para longe, devotava-se todo ele à digna missão de comer tudo, até ao último pedaço!

Era um gato que nunca deu parte fraca e, segundo ele, sendo tão patriótico e bom cristão, merecia uma cadeira na Assembleia da República. Grandes mudanças haveria de operar! E pensando em todas as propostas a apresentar em possíveis futuras reuniões, escolhendo mentalmente quais os melhores partidos a ter do seu lado, adormecia.

Mas enquanto dormia no seu sono feliz de final do dia, já nada disso interessava: sonhava com países que tencionava visitar, com espetáculos que iria assistir, e com aquela gata da casa ao lado que tinha um ronronar tão sexy e bamboleava as ancas ao passar por ele...



Mais gatos em:  https://cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt/coisas-de-gato-28851




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