Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
Telhados que se deitam ao sol, abertos ao dia imenso que se estende junto ao rio. Pulsa neles o calor da nova estação, juntamente com o riso do vento que rodopia entre as telhas e os ninhos de andorinha disfarçados sob os beirais. Águas-furtadas deixam voar conversas (...)
Indiferentes ao dia ensonado que os espreita, deslizam os cisnes pela água tépida e escurecida do lago. Provocam alterações na superfície da água, enquanto silenciosamente distorcem os ponteiros das horas apressadas. De forma altiva, debicam as palavras de todos os (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
Sei que a tarde te traz de volta a ti mesmo. Há muito tempo que é assim, não é? As tardes pertencem-te, mesmo quando se elevam enormes, tremendamente demoradas, arrastando-se mudas à tua frente! É nessa altura do dia que consegues respirar fundo as sedentas ideias (...)
Pousaste as tuas interrogações. Averiguas sombras e recantos nos quais irás recolher os sonhos que ainda não tiveste. Contas minutos e decides ser ainda cedo. Voas nas tuas cores até onde o sol canta alegre e descansas o teu voo. Olhas o jardim que é teu, onde as (...)
Tens pairado por aqui e por ali, alheia aos perfumes das gentes, aos cães que correm rua abaixo, aos comboios que sonham em cima do silêncio dos carris. Conversaste com todas as flores do campo e dormitaste no jardim bem cuidado. Viste a manhã chegar sobre os casebres (...)
Ao areal de todas as praias do mundo. A tua infinitude revela-se em vastidão de incontáveis grãos de areia, deitados às carícias do vento que se arrasta ágil sobre ti. Despe-te o sol, que do alto ilumina-te de altivo dourado e respira de ti leves poemas esquecidos de (...)
Chamaste-me na noite sóbria quando a brisa calava mundos dentro de nós. O Universo aproximou-se silencioso, deitou-se luminoso em nosso redor, cedendo-nos clarões de imensas estrelas que seriam nossas. No nada, gerou-se tudo, quando sentados no espaço sem caos (...)
É cedo ainda. Passeio pela praia. A maré cheia da noite passada deixou o areal molhado até ao paredão. Por todo o lado, pegadas de gaivotas e ramos partidos. Mais à frente, dois cães perseguem aos saltos um pombo solitário, que parece divertir-se com a situação, (...)