O fim de tarde pousa para lá da janela aberta, feito cetim que sustenta nos braços o cantar das aves que regressam às copas das árvores. O ar faz-se leve, fresco, como uma manta onde se sentam os risos despreocupados das crianças que brincam na praceta, enquanto (...)
E que tal um poema? Não um poema qualquer! Tem que ter luz... SÃlabas em som, Porque não? Ser poesia escancarada, Ter todas as cores do mundo. Tem que cair das madrugadas, Divagar em longas tardes de estio E amar muito à noite, devagarinho! Que tal um poema? Tem que (...)
Às vezes parece-me tudo irreal, ou como um sonho estranho: tu, a tua existência, que aos poucos imprimiste em mim, as palavras que outrora trocamos. Lembro-me de, na altura, pensar que realmente poderias ter vindo de outros mundos longÃnquos, outras eras, tempos (...)
Ao cair da manhã no jardim, Retirada a trela, Esquece alegre a idade: É cachorro outra vez! Qual dono de tudo, Atira-se à vida, saltitando feliz: Persegue a sua velha bola, O ramo atirado para longe, A frágil borboleta esvoaçante, A sombra da nuvem que passa! Fareja (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
Tens pairado por aqui e por ali, alheia aos perfumes das gentes, aos cães que correm rua abaixo, aos comboios que sonham em cima do silêncio dos carris. Conversaste com todas as flores do campo e dormitaste no jardim bem cuidado. Viste a manhã chegar sobre os casebres (...)