Manhã de chuva mansa, ininterrupta. Tudo parece abarcar, puxar a si num único abraço ávido, enquanto cai vertical, humilde, frágil e sentida. A paisagem à minha volta parece submissa, rendida já sem força a essa chuva que veio silenciosa de tantos e secretos (...)
Há palavras poderosas. Chegam devagar, tímidas, discretas. Cautelosas. Resguardam-se no espaço vazio do papel e aos poucos despem-se, deixam sílabas à solta, letras em festa, ideias que se espalham pelo ar em delicados círculos. Há palavras feitas de todos os mundos (...)
Tem sido assim nestes dias, desde a madrugada, jovem e inocente, até à noite vasta e misteriosa: um nevoeiro cerrado, húmido, branco e brilhante, que disfarça os contornos das estradas, prédios, árvores, candeeiros de rua e humores. Às vezes, parece que passam (...)
Janela aberta ao acordar vagaroso da praceta. Sol que chega triunfante para sacudir do dia restos que a noite deixou ao partir. Horas caminham sobre as asas dos pardais, andorinhas e rolas. No rebuliço do dia espreguiçam-se árvores, com as suas folhas barulhentas (...)
Não te esqueças de me lembrar. Não te esqueças de te lembrar que o mesmo céu nos abraça, que o teu sol entrega-se em mim, e que na noite partilhamos estrelas. O mundo avança e nele avançamos juntos. Neste momento, civilizações crescem. Filhos dão os primeiros (...)
Na tarde avançada o calor aperta cada vez mais. A cidade pulsa de vida sob aquela chuva lenta e persistente que teima em cair. Os prédios e as torres mais altas, coroados por nuvens pesadas e cinzentas, têm um semblante monótono, indiferente. Transeuntes caminham (...)
Mexo distraída o café à minha frente. Sinto sono, ainda é muito cedo. Silêncio à minha volta. Na rua, sons ainda baixos e discretos: os pássaros que se cumprimentam, as primeiras pessoas que, focadas no caminho, se dirigem para os seus trabalhos, cães que farejam o (...)
Tens em ti todas as ondas do teu mar. Na praia deserta e fria que desde o primeiro minuto se estende aos teus pés, és todas essas árvores frondosas, embriagadas, troncos caídos ao abandono das dunas, pegadas na areia gravadas a cada compasso do teu respirar. Inalas o (...)