A tarde vai avançada, tempo de abrandar. Sento-me nas horas do descanso que embalam a imaginação desperta em mim. Chove. A chuva também me molha pensamentos, abstrações, sentimentos e rascunhos. Brotam desejos da alma e asas voam de sonhos meus como pautas ao vento. (...)
Dá-me a tua mão. Deixa-me levar-te lá fora onde a noite se mostra. No horizonte, uma lua cheia sobe magnífica no céu de seda. Uma brisa morna sopra alto para lá dos cumes das serras embaladas na imensidão, onde as aves dormem das horas passadas. As águas do riacho (...)
Havia um jardim. Era onde se faziam as melhores festas de então. Sempre em noites de verão, sempre ao sábado. Orquestra ao vivo, os maiores clássicos da música, decoração a rigor. Jardim bem cuidado, fonte luminosa que oferecia um jogo de cores e de formas criadas (...)
O sono faz-se presente mas não quero dormir. Sinto lá fora o apelo da noite. Baixinho, quase inaudível. Leve, discreto, solene. Nunca consigo negar-me quando esse chamamento se faz ouvir. A imensidão do universo que se pressente para lá do visível devora-me a alma. (...)
Eu sei que és fera que há muito me ronda! Círculos cerrados que se fecham devagar, no silêncio escondido em escuro recanto. Pressinto-te perto... Passos cautelosos, respiração pausada, olhar focado em mim. Sem distrações ou desvelos, sem movimentos em falso, se (...)
Ao viajante do mundo. Em braços teus de luz onde chuva fina dança entorno-te tórrida a alma de horas transparentes. Descobre-me em dedos peregrinos ousadia esquiva sentimentos de renda e cetim da noite que chega jovem. Molham-me a alma cânticos de aves noturnas q (...)
O dia há muito que findou. A casa está adormecida na noite alta. Na hora tardia, o gato persegue silencioso ideias vagabundas por corredores longos e mal iluminados. O felpudo dos tapetes abafa qualquer som que as suas patinhas possam fazer. É um gato comum, não é (...)
Se lua cheia te adivinho em ténue, agreste noite de estrelas despida, acolho no colo quente luz prateada que derramas e que atira ao chão versos sem tempo, poesia calada. Recebo-te em silêncio fechado, luz pálida de calor macho que do vento siroco sopra palavras (...)
Viajo no silêncio do tempo ao teu encontro, num espaço que não conheço. Alcanças-me tu, enquanto o universo devagar se expande. És fugitivo cometa que me carrega entre cerradas nebulosas onde estrelas nascem. Fecho os olhos, saboreio golfadas finas de luz. Desarmo em (...)
Dá-me a mão. Há jardins iluminados por archotes acesos na noite. Leva-me por esses caminhos onde árvores em flor exalam no ar um doce perfume que se embrenha em nós. Em noites quentes como esta, orquestras tocam notas que brilham como reflexos dourados na superfície (...)