Embala-te comigo no embalo das primeiras horas do dia, quando os nossos corpos dormitam ainda na claridade que acorda devagar. Embala-te e aconchega-te em mim, só mais um pouco. Na preguiça das horas, repete baixinho aquelas palavras que ecoam desde a formação do (...)
Não há grão de areia que não conheça o peso dos teus passos, nem gaivota que não reconheça a tua silhueta contra o céu aberto que te vê passar. O mar conhece-te bem. Não um mar qualquer, mas esse feito de águas vivas, marés temperamentais, que facilmente se (...)
E o mar já não fala de ti. Apenas se consome secretamente em recordações tuas, que foi acumulando em cada onda quebrada no areal maduro. O céu também parece ter mudado: não procura mais ver-te caminhar pela praia imensa e gélida, nem tenta vasculhar os pensamentos (...)
E foi Primavera outra vez, Com as sombras das nuvens a passarem ligeiras por campinas cheias de verde, E o negro das asas das andorinhas a rasar o branco dos campanários da aldeia. Resquícios do inverno ainda se faziam sentir na dormência da madrugada orvalhada, E (...)
Cabe na Poesia o sonho, Os caminhos e as estrelas, Os silêncios dos abraços, As crianças e esperanças, Todas as pedras das pontes, As gentes, os horizontes As lutas da Humanidade, E as vitórias do dia. Cabem na Poesia Os provérbios antigos, As grandes invenções, Le (...)
... As estranhas nuvens soltaram a chuva que caiu noite e dia sem parar. Os primeiros rios da Terra encheram-se de vida. Campos tornaram-se férteis e cobriram-se de cereais. As árvores cederam o descanso dos seus ramos aos bandos de aves migratórias cansadas de voar. (...)
A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Acordas-me e acorda o dia, também! Ser assim acordada por ti é encontrar tudo como deve ser, tudo como deve estar, cada coisa no seu pleno lugar, na profunda certeza de que coisas boas acontecem! E não preciso de nada mais senão continuar a ser assim acordada por ti, (...)
Lembro-me de um dia eu e tu termos falado sobre Poesia, discordando sobre o que ela deveria ser. Pois bem, ao fim deste tempo todo mantenho a minha palavra: a Poesia quer-se livre, indomável, agreste! Não tem que obedecer a regras ou parâmetros. Nem sequer tem que fazer (...)
Há mistérios que chegam na hora certa. Trazem com eles o espanto das coisas belas e as certezas que só raramente são alcançadas. Às vezes, uma única vez em toda a vida. São aqueles que ainda hoje percorrem com a sua própria calma toda a vastidão do universo que (...)