O nevoeiro murmura palavras que me levam a ti, palavras com uma sonoridade ímpar que ressoa de tal forma pelos cantos do mundo que jamais deixará de ser ouvida. Conheço-te bem, desde tempos já há muito esquecidos porque há muito que deixaram de ser contados pelo (...)
Nessa tarde, por breves instantes, consegui ter um vislumbre do teu mundo escondido da luz do dia e dos olhares dos outros. É nele que te encontras sozinho perante a melancolia das tuas recordações, o ribombar das emoções, a ousadia dos sonhos, e a liberdade da (...)
Há mistérios que chegam na hora certa. Trazem com eles o espanto das coisas belas e as certezas que só raramente são alcançadas. Às vezes, uma única vez em toda a vida. São aqueles que ainda hoje percorrem com a sua própria calma toda a vastidão do universo que (...)
Agora alguns miúdos brincam na rua, as suas vozes altas e agudas pautadas por risos misturam-se ao ladrar dos cães que correm atrás da bola. A hora avança. A minha respiração está mais leve e pausada, sinto o meu corpo fresco e, imersa no jogo de luz-sombra que (...)
Sim, não és dono do tempo. Nem das estruturas onde o mundo assenta, Ou a poesia pousa. Não és dono das certezas que passam apressadas no vento, E que mudam mais rápido que as estações do ano. Nem sequer és dono dos verbos que conjugas, Da fé dos homens, Ou das (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Permanecemos na luz branca e dócil que abraça o salão, enquanto lá fora, indiferente à nossa conversa, a vida prossegue pelas ruas atarefadas do dia novo, ainda sem dono. De tudo falamos: de mistérios que não se podem explicar, porque só podem ser sentidos por quem (...)
Manhã minha, Tua, Da alma, da rua, Das gentes, Telhados, Gaivotas e gatos! Manhã que me acorda, Recorda, Que pede, chama, Arranca da cama, Que envolve, Revolve, E devolve A paz Num dia mais! Manhã que chega princesa No ladrar do Sol, Manhã de frescura, Palavras, ternura... (...)
Tempo de repouso. Celebração. Para já, arrumo incertezas e orações, tudo fica para além da janela aberta à placidez da praceta e da cadência da música que toca baixinho atrás de mim. Desce no meu íntimo a serenidade da hora, enquanto o fumo do café acabado de (...)
Na hora clandestina da noite sossegada, quando ruas dormem no silêncio amordaçado de um sono que brilha em gotículas mil, desperto eu sob os impulsos que conheço bem. Não quero saber se chove, é uma chuva mansa, que mal se ouve ou sente, e apetece-me. Abro a porta (...)