No começo de todos os começos, antes de tudo o mais se ter formado... O Tempo soltou-se do universo que se torcia para lá da noite! Partículas minúsculas deambulavam sem sentido onde a luz se refazia e estrelas se formavam. Ventos frios sem som corriam através de (...)
Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
Está calor, um calor repentino que cai de um céu cada vez mais escuro. O ar torna-se pesado, estagnado: nem uma só folha se move nas árvores em alerta, nem uma só erva a abanar no jardim bem cuidado. E o silêncio sente-se como matéria, cresce, à espera de um (...)
Ao cair da manhã no jardim, Retirada a trela, Esquece alegre a idade: É cachorro outra vez! Qual dono de tudo, Atira-se à vida, saltitando feliz: Persegue a sua velha bola, O ramo atirado para longe, A frágil borboleta esvoaçante, A sombra da nuvem que passa! Fareja (...)
Indiferentes ao dia ensonado que os espreita, deslizam os cisnes pela água tépida e escurecida do lago. Provocam alterações na superfície da água, enquanto silenciosamente distorcem os ponteiros das horas apressadas. De forma altiva, debicam as palavras de todos os (...)
Um dia partirei à toa, à descoberta do ponto cardeal que me faça ser poema. Pelo caminho ficarão os ruídos sem som, os acasos sem sentido, as horas inundadas do quase nada. Irei pelo caminho solto, alcatrão ao sol, sombras e sinais à aventura. Balão solto que se (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
Aguardo-te em cada neblina que sobe, onde pinheiros e eucaliptos sopram murmúrios de musgo. Chegaste de longe, quando o Tempo era um só, e os dias sempre se uniam às noites na mudança das estações. Nesses tempos distantes, músicas ecoavam no firmamento e (...)
Repousa em mim, luz que o sol liberta ao dia. Recebo-te em júbilo, que desce sempre feito mistério, manhã após manhã. Pousa suavemente nesta minha pele que, sem entraves, te espera desde o clarear dos céus. Aquece-me suavemente como beijos que se dão, e acaricia-me (...)
São noites gélidas, estas. Pressentem-se pensamentos singulares que o frio sempre me traz, sentimentos chegados do passado longínquo, ao agora. É isso mesmo que acabará por acontecer, conforme a lua for subindo no céu que por ela se deixa, sem esforço e com agrado, (...)