Há mistérios que chegam na hora certa. Trazem com eles o espanto das coisas belas e as certezas que só raramente são alcançadas. Às vezes, uma única vez em toda a vida. São aqueles que ainda hoje percorrem com a sua própria calma toda a vastidão do universo que (...)
Saltita o cão entre as horas novas de um ano também ele novo. Ignora a data impressa no jornal pousado no banco, ao lado do seu humano. Ignora as decorações penduradas nas janelas e na rua, bem como toda a azáfama fora do normal à qual ele assiste à sua volta. São (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
E se tiver que chover, Que chova! Que do céu cinzento Interrogativo, calado, Chovam poemas antigos, Tempos distantes, Músicas de outrora! Que se soltem odores E se abram cores Na superfície dos meus sentidos Que inocentes a ti se rendem. Se tiver que chover, Que chova! (...)
Hoje não há brumas, Nem limbos ou etéreos! Vem então, que eu estou perto! Passeia comigo, Caminha a meu lado Por ruas pintadas de sol, Caminhos estreitos Cheios de cor e janelas abertas, E dos odores de flores, Ervas aromáticas, De roupa lavada, E comida ao fogão... Vem! A cidade é tua, mostra-ma:
No acordar vagaroso do dia, quando as horas ensonadas permanecem ainda deitadas na friagem da manhã virgem, vejo-te chegar, olhar pleno, astuto, cabelo sem rumo a lembrar o mar impulsivo em dias de temporal. Abraças-me num momento cheio de cores e arabescos, onde divaga (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol subtil no tracejado do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)
Não sabia se alguma vez eu te iria encontrar, apesar de pressentir que há muito tempo algo indefinido me conduzia em direção a ti. E um dia, encontrei-te. Foi uma espécie de reconhecimento, quando no silêncio quente de uma só noite eu aprendi cada um dos teus (...)
Faço-me vento e parto em busca vã de ti. Sopro nos caminhos que percorres, todos eles feitos papel em branco, onde as palavras que escreves são pedaços escorridos da tua noite e estilhaçam tudo por onde passam. Há esquinas que sabem de ti, conhecem-te o peso dos (...)
Crepúsculo. Hora de mistério e transição, em que só conta o aqui e o agora. Trago-te ao momento. Não há vento, e as horas param vadias no ar estagnado e quente. No intensificar do lusco-fusco, o céu abre-se em tonalidades que rasgam toda a vastidão do horizonte, e (...)