O fim de tarde pousa para lá da janela aberta, feito cetim que sustenta nos braços o cantar das aves que regressam às copas das árvores. O ar faz-se leve, fresco, como uma manta onde se sentam os risos despreocupados das crianças que brincam na praceta, enquanto (...)
 Patrulha as ruas e os rios, esta minha vontade de ti. E não te vejo. Vê-te a chuva que cai dócil e embriaga instintos que vêm de muito longe. Vê-te o vento quente que traz com ele o calor amante do deserto e te desfaz em desejos que te quebram por dentro. Vê-te a (...)
Às vezes parece-me tudo irreal, ou como um sonho estranho: tu, a tua existência, que aos poucos imprimiste em mim, as palavras que outrora trocamos. Lembro-me de, na altura, pensar que realmente poderias ter vindo de outros mundos longÃnquos, outras eras, tempos (...)
Ao cair da manhã no jardim, Retirada a trela, Esquece alegre a idade: É cachorro outra vez! Qual dono de tudo, Atira-se à vida, saltitando feliz: Persegue a sua velha bola, O ramo atirado para longe, A frágil borboleta esvoaçante, A sombra da nuvem que passa! Fareja (...)
Vem, vem na manhã simples que chega. Vem tu, vem a mim, abraça o calor da minha pele, e depois cede ao impulso de fazer demorar mais um pouco esse abraço que me dás. Senta-te comigo na terra aquecida pelo sol, onde jovem, a relva, perfuma de promessas o ar. Vem, (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
Manhã de chuva mansa, ininterrupta. Tudo parece abarcar, puxar a si num único abraço ávido, enquanto cai vertical, humilde, frágil e sentida. A paisagem à minha volta parece submissa, rendida já sem força a essa chuva que veio silenciosa de tantos e secretos (...)