Lembro-me de um dia eu e tu termos falado sobre Poesia, discordando sobre o que ela deveria ser. Pois bem, ao fim deste tempo todo mantenho a minha palavra: a Poesia quer-se livre, indomável, agreste! Não tem que obedecer a regras ou parâmetros. Nem sequer tem que fazer (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
E se tiver que chover, Que chova! Que do céu cinzento Interrogativo, calado, Chovam poemas antigos, Tempos distantes, Músicas de outrora! Que se soltem odores E se abram cores Na superfície dos meus sentidos Que inocentes a ti se rendem. Se tiver que chover, Que chova! (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Que venhas com a chegada do silêncio das estrelas, com os ciclos lunares que regem marés, com os dois grandes planetas que percorrem juntos o céu ao lado da lua branca. Que tragas os cheiros crus da maresia, da terra quente e amante, do dourado imenso dos campos (...)
Avanças despreocupado pelo teu outono, que se passeia contigo também, entre os verdes e dourados do avançar lento dos dias. Folhas tombadas ao chão rasgam-se sob as tuas passadas, que levantam ao ar o aroma próprio da terra molhada. Ecoam à tua volta os enigmas densos (...)
E agora, é manhã! Escolho o sol, O acordar em escala musical, O soletrar poemas que na noite não se veem E que afinal correm como cometas Atrás dos cães saltitões... Mas é manhã, agora! No calor que embate no dia Entre aves invisíveis E mapas por abrir, Desperta a (...)
Na luz esbranquiçada que escorre de um céu parado e baço, brilham ainda as gotas que ficaram da última chuva caída da madrugada tímida. Foi nessa altura que, sob um céu colossal, a roseira fechou os olhos e, ansiosa, autorizou o deslizar vertiginoso da água até (...)
Sei onde estás neste preciso momento: nessa clareira, onde a tua mente esvoaça para o alto, muito acima das copas das árvores, e a luz morna cai em silêncio na superfície fria do lago, onde criaturas que nunca viste se escondem da tua mente na escuridão profunda das (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol subtil no tracejado do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)