Aceito-te
O nevoeiro murmura palavras que me levam a ti, palavras com uma sonoridade ímpar que ressoa de tal forma pelos cantos do mundo que jamais deixará de ser ouvida.
Conheço-te bem, desde tempos já há muito esquecidos porque há muito que deixaram de ser contados pelo Homem no calendário, ou no girar lento das constelações. Mas conheço-te, e chegas de novo hoje nesta maré feita de cerradas névoas, que vão e vêm como ondas cheias de velhas histórias, e que despertam os imensos verdes dos campos, os dourados das folhas, o amarelo das derradeiras flores e dos novos frutos.
Em vão tinha procurado por ti desde a madrugada adormecida. Em vão... Alcanças-me tu agora nesta neblina que chega calada, com uma força igual à da gravidade e que me puxa a um teu querer, mais antigo que tudo. Deixo finalmente para trás todos os enganos (tantos!) e aceito-te, a ti.
Passo a ser parte integrante da enorme paz que me transmites, da serenidade da manhã ainda tão nova e inocente, do poder que a natureza exerce sobre quem a compreende, de todas as imensas forças que fazem o mundo girar na sua órbita e ter algo belo, apesar de tudo. Aceito-te. É quando sílabas à solta renascem, junto com algo chamado Fé...