AMA-ME
... e perco-me no sentido do nada remetido a tudo o que és!
Terceiro carril.
Selada a frágil luz dourada
em angelical madrugada,
já as tuas mãos em mim conetam o meu corpo a outras esferas:
mundos insondáveis,
de notas subtis, cristalinas.
Já desisti, já me rendi.
Sou tinir de cristal,
frágil gelo quebrado
em vibrações que me sobem
à altura de um firmamento
onde místicos,
gigantes deuses, habitam.
O teu olhar de mar azul mistério
há muito que arrebatou certezas onde forte me escondia.
De tudo o que ficou,
sorvo invisível embriaguez de alma, refaço-me sedenta do teu tudo. Vou enfim, em mim, reencontrar-te.
Desvaneço-me atordoada,
escrava em desejos opalinos, imperativos que comandam ocultos a roda primitiva da vida.
Que estrelas caiam!
Que torpores adormeçam vulcões! Que vagas desfaçam rochedos! Vences, azul no olhar!
Em profundas, vastas planícies
como noite te passeias;
já nada meu quero,
nenhum eu que não tu,
fragata empurrada por silenciosos ventos vindos de longe.
Não treme ansioso
o meu corpo, teu,
no eco de palavras devoradas?
Submissa tua, finalmente,
derradeira paixão na Terra,
onde como bússola em mapa me pousas.
Ama-me sem rumo.