Sem Rumo
... e perco-me no sentido do nada
Remetido a tudo o que és!
Selada a frágil luz dourada
Em angelical madrugada,
Já as tuas mãos em mim conetam
O meu corpo a outras esferas:
Mundos insondáveis,
De notas subtis, cristalinas.
Já desisti, já me rendi.
Sou tinir de cristal,
Frágil gelo quebrado em vibrações
Que me sobem à altura de um firmamento
Onde místicos, gigantes deuses, habitam.
O teu olhar de mistério
Há muito que arrebatou certezas
Onde forte me escondia.
De tudo o que ficou,
Sorvo invisível embriaguez de alma,
Refaço-me sedenta do teu tudo.
Vou enfim, em mim, reencontrar-te.
Desvaneço-me atordoada,
Escrava em desejos opalinos,
Imperativos que comandam ocultos
A roda primitiva da vida.
Que estrelas caiam!
Que torpores adormeçam vulcões!
Que vagas desfaçam rochedos!
Vences, imensidão feita olhar!
Em profundas, vastas planícies
Como noite te passeias.
Já nada meu quero,
Nenhum eu que não tu,
Fragata empurrada por silenciosos ventos vindos de longe.
Não treme ansioso o meu corpo, teu,
No eco de palavras devoradas?
Submissa tua, finalmente,
Derradeira paixão na Terra,
Onde como bússola em mapa teu me pousas.
Ama-me sem rumo.