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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Amor na Dor

13.11.20 | Sandra

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Já não estava habituada a amar. Já tinha esquecido tudo o que o amor faz ao coração de uma mulher. As dúvidas e as certezas. O par ou o ímpar. A coragem e o receio. O sonhar sem fim. Tudo à minha volta ter o embalo de uma luz especial, doce, quente, parecida com o teu nome. Já não estava habituada a acreditar, a avançar, a sorrir tão tímida na alma que se agiganta de esperança. Já não estava habituada a sentir este amor que tanto, tudo ocupa. Encheu-me o coração, a mente, a alma, o meu ser enquanto eu devagar derrubava incertezas e medos. E agora não sei o que fazer com este amor que tem o teu rosto e o teu corpo. Como o afastar da noite que amo, amada por ti também? Como atenuar este tão grande amor no crepúsculo que antecede a noite? Como lhe pedir que se dilua da bruma que um dia me envolveu e do qual és o Senhor, que sinto conhecer desde tempos primordiais? Como olhar para lá do firmamento da tua poesia, do meu desejo, do desejado romance e do sonho, e ver as tuas mãos que prendem órbitas que lá à frente não seriam tangentes mas cruzar-se-iam inegavelmente? O que fazer com este amor tão sóbrio que despertaste em mim, alma de alma, último dos últimos, que é minha paixão derradeira? Como te encontrar, se te sentia parte em mim e eu própria já não me encontro? Como te pensar sem querer falar de amor, sem doer no meu peito e sem conseguir parar lágrimas mansas e cansadas que caem? O amor, esse, destruía aos poucos os impossíveis, que, saltitando entre passar de tempo, tornar-se-iam possibilidades. E tu agora, não queres.

Já não estava habituada a amar, até tu caíres alma gémea, em mim. Aperto-te, meu amor, ao peito e nele te guardo, tu, ribombar do trovão, que me fez nascer de novo para nada de nada mais ser, não mais. O amor, este amor, é sempre maior que eu, pois não é só meu, é também teu, pois do meu peito foge para, em vão, te alcançar. Ser feliz? Almas puras não têm direito a tanto... viverei apenas amando o amor que te tenho, enquanto no coração tanto te amo, meu amor. E tu, deixa-me então, na tua distância e imensa frieza que mordisca, belisca, faz doer. Desfaz-te de mim como fumo ao ar, não preciso dos teus silêncios. 

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