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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Despida do Dia

29.08.20 | Sandra

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Dia chegado ao fim. A noite vai já muito avançada, caminhando descalça entre meditações e lutas silenciosas, acanhadas. Na rua sopra um vento forte, gelado, que pica a pele e o cansaço. Dentro de casa, pesa um silêncio demasiado quente, estagnado. O calor esmaga-me, a minha pele anseia livrar-se da roupa e das horas passadas. Abro a janela e respiro o frio da noite obscura. Cabelo preso à toa, decote completamente aberto, olhos fechados. Agora sim, sabe-me bem sentir o vento!

Olho o céu, não consigo parar de o fazer. Como é lindo, familiar e tranquilo. Sinto uma espécie de nostalgia. Começa mais uma semana e isso traz-me sempre alguma ansiedade e apreensão. Sempre! Penso nas minhas rotinas, nos meus problemas, e no que deveria ou não fazer. A passagem do tempo é rápida e a incerteza habita no amanhã, cujo controlo não está nas nossas mãos. Pertence a outros domínios. Tento não pensar nisso agora. Respiro fundo e olho ao meu redor. Alguns vizinhos passeiam os seus cães, embora frequentemente me pareça o oposto. Quem manda, afinal?

O céu está escuro e algo agitado. O mundo é imensamente belo! Assusta-me e fascina-me. Temo-o pela sua grandiosidade e poder, em todas as vertentes, e pelo mesmo motivo, amo-o. Num universo gigante, somos minúsculos às vezes. Às vezes. Vejo uma estrela luzir mais que as outras por cima dos pinheiros altos. Pergunto-me há quanto tempo estará ela ali sozinha, brilhante, majestosa, a olhar para mim.

Todos temos um ou outro dia em que não estamos em paz com a nossa alma; hoje foi a minha vez. Amanhã é sempre um outro dia, e sei de antemão que voltarei às minhas rotinas com alegria, com fé no meu Deus e com a confiança de sempre, cantando e saltitando entre divisões enquanto me foco no meu trabalho doméstico. Vou buscar um chocolate e leio no telemóvel as notícias do dia. Lá fora a noite prossegue o seu percurso, contorcendo-se alheia às vidas cá em baixo, que se debatem entre infindáveis questões.

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