Aos Poucos
Há muito que a noite quente tinha enchido de estrelas e poesia a superfície lisa do lago. Quando os ponteiros do relógio marcaram a hora certa, traças voaram como folhas de árvore ao sabor da brisa morna, e eu soube que estarias lá à minha espera. Era como algo estipulado entre nós desde tempos primordiais, quando os dias começaram a ser contados e linhas retas encheram-se de letras nossas.
Com um olhar de reconhecimento maior, deste-me a mão para me ajudares a chegar mais perto de ti. Quando a noite nos acolheu na sua plenitude, falaste-me de todos os lugares por onde andaste, e de interpretações que foram nova música sob a tua própria escrita. Soube então o teu sentido pleno, cheio de infinito, e esqueci significados aprendidos até então.
Nada mais contou senão o abraço nu que demos e que se estendeu como poema ao universo em expansão; e o beijo, que durou até os corpos serem um só e a lua mudar de fase. A noite parou por fim o tempo, projetou astros sobre os círculos desenhados por nós na água tépida, atirou para longe questões que não necessitavam de respostas. Sem pressa, ficamos em silêncio a olhar o mundo acontecer. Era a nossa magia que se desenrolava aos poucos perante nós.