De Mim a Ti
Tens em ti todas as ondas do teu mar. Na praia deserta e fria que desde o primeiro minuto se estende aos teus pés, és todas essas árvores frondosas, embriagadas, troncos caídos ao abandono das dunas, pegadas na areia gravadas a cada compasso do teu respirar.
Inalas o perfume da maresia quando a gaivota se refugia no alto das rochas e o vento solta as tuas amarras. Tens os olhos húmidos e a alma à espera, descrente, enfunada como velas duma embarcação fantasma.
Sentas-te no aconchego daquele teu velho banco na praia e entregas-te ao tempo em que tudo o que era grandioso era brindado ao sabor da brisa que és tu também. Sopraste-me e eu senti-te.
Quando rendida, baixa a maré, a estrada atrás de ti confessa-se deserta na hora do descanso. Folhas secas rasgam-se aos teus pés. Também tu estás cansado. Mas o brilho da lua cheia ainda te olha no meu olhar. Conseguiste.