Balouço
No sol adocicado da tarde transparente, enquanto as horas se fazem gentis, plenas e agrestes, balouço-me sem pensar no sentido do tempo ou do espaço.
Balouço-me, e no meu embalo balançam-se também sorrisos, abraços, promessas, palavras silvestres como cartas ao vento.
Subo ao alto destemida e tão alto estou que atiro ao azul celeste todos os meus sonhos feitos de brisas e buscas de tanto! Já é tempo de sonhos novos!
(Acompanhas-me?)
Abranda agora o balouço. Numa luta ganha contra a gravidade, paro uns instantes perto de um céu inerte, indiferente a mim, e depois desço vertiginosamente. Rasgo segundos a uma velocidade tal que sou gaivota a mergulhar no mar da tua poesia que acelera a respiração e destapa a alma.
E assim me disperso sem mais nada em que pensar, bandeira de cores ao vento, vela enfunada naquele constante balouçar que não determina quem sou! Apenas me balouço livre e grata na paisagem circundante que, ingénua, se balança comigo. E sinto-me bem.