Os Bons Mistérios
Há mistérios que chegam na hora certa. Trazem com eles o espanto das coisas belas e as certezas que só raramente são alcançadas. Às vezes, uma única vez em toda a vida. São aqueles que ainda hoje percorrem com a sua própria calma toda a vastidão do universo que nos acolhe, e que jamais serão decifrados. Deus e a fé. O sonho, a intuição, as coincidências. O espanto e o deslumbre. O poder, o amor sob todas as suas nuances, e tudo o que vagueia entre a ciência, a metafísica e a religião.
Há mistérios que libertam, evocam notas musicais sob os vários comprimentos de luz, invadem a mente, e trazem neles sonhos já esquecidos no tempo. Têm formas incógnitas ou subtis, e elevam-nos a uma consciência maior, que reconhece o poder das pequenas (grandes) coisas, e que nos fazem felizes. Pode ser um sorriso imprevisto de alguém que se cruza connosco, uma música que desperta lembranças, um delicioso cozinhado a fumegar à nossa frente, um nascer-do-sol sobre uma cidade imensa, ou um pássaro que saltita perto dos nossos pés.
Os mistérios estão por detrás e para além de tudo. Talvez seja por isso que permanecem sempre, quando tudo o mais se torna passageiro e some. Talvez seja por isso que têm o poder de transformar um dia sem sentido, num dia delineado com todas as aguarelas que existem, e que trazem nelas um pouco do que és. Afinal, foste tu quem os criaste há tanto tempo: os mistérios, os bons...