Nevoeiro
Tem sido assim nestes dias, desde a madrugada, jovem e inocente, até à noite vasta e misteriosa: um nevoeiro cerrado, húmido, branco e brilhante, que disfarça os contornos das estradas, prédios, árvores, candeeiros de rua e humores. Às vezes, parece que passam sombras nas sombras, perto de mim, figuras altas, esguias, que desaparecem tão misteriosamente como chegam. Os sons ouvem-se abafados, distantes, como vozes fantasmagóricas vindas de outros mundos paralelos a este. Sinto-te perto, presente em meu redor, em cada recanto esbatido e silencioso, opaco na luz difusa. Também tu és esse oculto que se adensa em mim e torna tudo opaco, belo, misterioso aos meus sentidos. E gosto tanto de ti, mais ainda, nesse nevoeiro que me atrai, um gostar leve, definido, certo, objetivo. Como gosto de ti... E nessas névoas desejo-te, a tua presença, a tua constância, tudo o que és e me fazes sentir! Sentimento esse que permanecerá, mesmo quando as névoas se dissiparem sob a dureza do sol impiedoso.