Cão
Ao cair da manhã no jardim,
Retirada a trela,
Esquece alegre a idade:
É cachorro outra vez!
Qual dono de tudo,
Atira-se à vida, saltitando feliz:
Persegue a sua velha bola,
O ramo atirado para longe,
A frágil borboleta esvoaçante,
A sombra da nuvem que passa!
Fareja amigos e rói brincadeiras!
E quando brilha de novo o sol,
Com força por entre o vento,
Lá vai ele de novo, língua de fora,
Super-herói a salvar o mundo!
Corre louco, desenfreado,
Rosna, coração a mil,
Sem mapa, rumo ou destino:
Pelo ao vento, orelhas a abanar,
E no focinho reguila,
Um ar risonho, jovial!
Com um olhar brilhante de alegria,
A latir ferozes aventuras,
Voa doido sobre relvados,
Derrapa nas pedras da calçada,
Patas felpudas que esmagam
trevos,
Malmequeres, túlipas.
E aves assustadas voam para longe!
Corre, pula,
Desaparece de vista,
E volta de novo, a arfar gargalhadas,
Ladrando traquinices!
Mas no silêncio da noite,
É todo ele um coração que se dá;
Sossega a doçura da idade deitado na sua almofada
Quieto, calado, despreocupado.
Rende-se às festinhas no pelo,
Enche os ternos olhos húmidos
de todo um amor sem fim,
E preenche ao humano a alma de certezas e risos!
Nota: mais cães em https://cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt/cao-ll-135573?tc=91200968317