Chuva Caída
Manhã de chuva mansa, ininterrupta. Tudo parece abarcar, puxar a si num único abraço ávido, enquanto cai vertical, humilde, frágil e sentida. A paisagem à minha volta parece submissa, rendida já sem força a essa chuva que veio silenciosa de tantos e secretos lugares. A praceta, os relvados bem cuidados, os parques, estradas e caminhos, prédios e carros, tudo se despe à chuva mole e insistente que tomba de um céu pleno, nostálgico.
Deixo-me levar pela visão das gotas de água que, vagarosas e amantes, se deitam no cenário frio que me cerca. A sua musicalidade mistura-se aos sons das aves, que arrepiadas ignoram a chuva e prosseguem os seus afazeres. Choveu toda a noite, mas é bem diferente esta chuva de agora, que se assemelha a uma melopeia de velhos tempos, a um narrar de histórias antigas ou a um lamento por causa de um triste amor. Sinto frio, trago pouca roupa no corpo, mas não consigo afastar-me da janela de onde vem aquele perfume tão típico a terra molhada, a relva fresca, à madeira molhada das árvores, que torna leve, renovado, o ar. Hoje, numa manhã em que acordei cansada, de tudo e de nada, a chuva relaxou-me, lavou não só a paisagem ao meu redor mas também os meus sentidos, o meu cansaço. A minha fé intensifica-se.