Cisnes
Indiferentes ao dia ensonado que os espreita, deslizam os cisnes pela água tépida e escurecida do lago.
Provocam alterações na superfície da água, enquanto silenciosamente distorcem os ponteiros das horas apressadas. De forma altiva, debicam as palavras de todos os tempos, onde boiam folhas e ramos finos, e as tartarugas tontas olham o céu.
No brilho do calor parado da tarde, enquanto cigarras desfilam a sua exuberância, os cisnes ignoram as árvores, as nuvens, o arrulhar dos pombos. Passa um gato. Cobiça-lhes as penas aprumadas, brancas, lisas, a carne tenra que se esconde por baixo. Mas logo desiste e prossegue pelos seus vagares. São cisnes. Pertencem às lendas e aos mitos, a simbologias, a desfiles em passadeiras vermelhas e a luares convictos.
E deslizam sempre, na sua noção do irreal e do místico. Um dia cantarão, e o lago contará histórias sobre eles.