Contemplativo: O Outro Lado
(Todo o teu foco já arrancou raízes, chicoteou ramos no ar e fez folhas voarem em todas as direções. E tu, nem te mexeste. As horas surgem atrás de ti, encostam-se às tuas vestes molhadas e pousam a mão no teu ombro. Nem dás por elas...)
Vi-te eu ao longe nessa tua turbulência, quando as raízes soltas torceram com força as águas paradas do rio. Quando os ramos rasgaram sem piedade os ventos que rodopiaram, levantando pedras do chão. Quando as folhas agitadas ao ar transformaram-se em pássaros que gritando, voaram assustados para longe, sem rumo. Eu vi-te quando o teu foco fugiu de ti nesse tempo sem tempos. E as horas deslizaram na tua direção, tentaram serenar essa tua impetuosidade, até tudo em teu redor repousar no seu lugar devido. Eu estava perto quando não por nada deste. Que dês então por mim agora. Que te ausentes de ti no meu abraço que te envolve como madrugadas cantantes. Que dês pelo meu silêncio que te afaga histórias de tempos distantes, lançados às nuvens rápidas que cruzam marés. Que sintas a calmaria do orvalho doce e fresco que como beijo deleita-se em ti. Que te sintas sol solvente, pois a vida entranha-te. O vento que te sopra passou por mim há momentos atrás. E foi agradável o seu murmurar. Não te inibes de o receber. Ele é de suave odor: fala com voz de poeta mas com coração de guerreiro.
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