Discordando
Lembro-me de um dia eu e tu termos falado sobre Poesia, discordando sobre o que ela deveria ser. Pois bem, ao fim deste tempo todo mantenho a minha palavra: a Poesia quer-se livre, indomável, agreste! Não tem que obedecer a regras ou parâmetros. Nem sequer tem que fazer sentido, até porque a Poesia pertence a todos - não só a quem a escreve, mas também a quem a lê - e, como tal, tem nela todos os sentidos que lhe quiserem dar. Cumpre assim o seu desígnio, torna-se aquilo que nasceu para ser: o reflexo e a extensão da alma de cada um!
A noite cai vertiginosamente. O céu enche-se de estrelas, e já subiu ao alto uma lua em forma de foice. Não consigo suportar mais o frio da rua. No caminho de regresso a casa passo perto do pessegueiro em flor. No tempo certo dará os seus frutos, apesar de que no final alguns irão cair ao chão tombados pelo vento, outros serão comidos pelos pássaros e por insetos. Outros ainda, acabarão por apodrecer e mirrar nos ramos. Mas ainda é cedo, para já a árvore encontra-se toda ela coberta por enormes e belas flores, admiradas e fotografadas por todos os que por ela passam!
Como sempre, tenho o carro estacionado mesmo ao seu lado. Verifico se está tudo bem e vou-me embora. Enquanto me afasto, continuo a defender mentalmente a liberdade da Poesia, seja ela sobre solidão, estrelas ou pessegueiros em flor. Afinal, ela faz-se presente um pouco por todo o lado, até mesmo neste frio impiedoso que rasga a pele, ou na minha escrita que não consegues compreender.