Por Inteiro
É dono de campos e charnecas, onde a erva solta agarra as duras geadas que o sol há-de capturar. Na chegada da manhã desafia os ventos esquivos, voa ao alto com alma de peregrino e saúda as horas azuis de um imenso céu, onde se sente maior que o tempo e o silêncio.
Às vezes, cansado, desce às árvores caladas da praceta, pousa as suas penas negras cheias de convicções em ramos duros, vazios, marcando território. E aí, dita poemas ao mundo, às outras aves faladoras que o cercam, às pessoas e aos cães que deambulam ladrando pensamentos sem lógica.
Mas inevitavelmente volta ao céu alto, onde ventos descampados sopram sobre o negro das suas asas, sobre o avançar dos ponteiros do relógio, os telhados baços e os relvados frios, onde sombras distraídas deslizam. É quando se sente maior, por inteiro. Não só dono de campos e charnecas, mas também dono de todos os céus.