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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Ecos

07.09.20 | Sandra

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Mexo distraída o café à minha frente. Sinto sono, ainda é muito cedo. Silêncio à minha volta. Na rua, sons ainda baixos e discretos: os pássaros que se cumprimentam, as primeiras pessoas que, focadas no caminho, se dirigem para os seus trabalhos, cães que farejam o mundo curiosos e alegres, um ou outro carro que segue na estrada longínqua e ainda deserta.

Está já muito calor, apesar da hora jovem. Ouve-se um avião a cruzar o céu, o som grave do motor a arrastar por cima da camada espessa das nuvens cerradas que escondem todo o firmamento. Lembro-me de ti. Bem vindo, tão bem vindo, meu querido! A tua presença parece ecoar em tudo aquilo que me cerca, dentro e fora de casa. Mas sei que não é assim. Sei que essa tua presença deliciosamente refinada apenas ecoa dentro de mim e para mim; sou eu quem, dona da tua verdade, projeta esses ecos em cada recanto da parte real da minha vida.

Encontraste-me como ninguém. Conheceste-me como ninguém. Nem só de sonhos vive o Homem mas fizeste-me sonhar e conhecer novas esferas, outras belas e mais calmas possibilidades. Sem haver nunca uma questão, deste-me tudo o que de ti poderias ter dado, como só tu o poderias ter feito. Quanta honra, a minha!

Já lá vão alguns anos. Não tenho sabido de ti. Afastei-me, afastei-te. Resignada, aceito-o. Eu sei, tu sabes que eu não sou alguém resignado, conformado. Quando a ação se torna urgente e necessária, arregaço as mangas e, com uma força sem explicação, deito mãos à obra de tal forma que o mundo sacode-se, levanta-se e recomeça a sua marcha. E ai de quem! Afinal sou de Deus, e em Deus tenho a minha fé!

O café ainda está quente. Bebo-o deliciada e comovida, como naquele dia, bebi deliciada as tuas palavras frágeis e imensas feitas confissão de amor, ao sabor de um café numa tarde de vento outonal. Guardo os ecos desse teu jeito de outrora, pois dão um sentido maior a tanto de hoje!

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