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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Em Universo Peregrino

05.09.20 | Sandra

1859616_M_mix01_1600709741234.jpgPois um dia chamaste-me e eu ouvi-te, uma voz feita do murmúrio leve da brisa esquecida na noite, quando ecoa o piar da coruja no alto das árvores antigas. Ouvi o teu apelo, senti-o no arrepio da pele nua, ansiosa. Desde aí, quando me chamas, eu escuto e vou ao teu encontro.

Acolhes-me. De novo, nós. A água lisa e cheia dos reflexos prateados de luar acaricia, como cálido cetim, as nossas almas salgadas. Entre as tuas mãos (algas ao sabor da maré), assumo que parte de mim é tua pertença e oiço-te, uma e outra vez. Só tu falas, sussurros de rasgado nevoeiro que contam histórias de velhos mundos onde foste rei. São histórias que entorpecem os sentidos e devoram a alma. Nelas, não sei se ainda respiro. Apenas me torno parte do céu acima de nós, no seu movimento vivo, lento, intenso de estrelas e cânticos xamânicos perdidos na passagem dos séculos.

A noite avança por galáxias distantes, perigosas, imensas. No meu ventre, despido como horizontes esquecidos, repousas tu, veleiro na noite, enquanto ao longe, um tambor ressoa desde o princípio do mundo, e no areal a fogueira ainda arde. Sou agora mais tu e menos eu, entorpecida na infinidade das horas que não existem, e no Tempo que há-de ser. Nós permanecemos, a manhã ainda está distante e o amor é maior.

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