Escrevo-te
Escrevo-te de longe, tão longe,
Para lá de mim mesma,
A partir da noite ímpar, desperta do sono vadio,
Onde silêncios se colam em brumas
E traças se encantam na luz.
Contemplei-te certa vez,
Num limbo distante, no limiar do Tempo.
Quedavas em surreal espanto nas águas paradas do infinito,
Quando cidades distantes se calavam
E a noite marginal te carregava em si.
Escrevias.
Sonhei-te mais perto desde então,
Mil vezes haragano o teu nome,
Em horas imensas e etéreas.
Amei-te para sempre,
Quebrei estrelas por aí,
Desfiz ventos que alisavam desertos,
Até a poesia rasgar-se toda ela.
Foram noites tontas de ti,
E eu escrevi, também!
Amo-te agora, ainda mais,
Em silêncios arrebatadores
Que nos abrem os caminhos que já foram nossos um dia.
Sim, o universo acolhe-nos,
Recebe-nos de novo,
Porque somos noite, também.
É de lá que eu te escrevo,
Prezando o silêncio solene que permanece.