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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Esperança

14.01.21 | Sandra

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A manhã sentou-se a meu lado. Encheu-me de vagares e fez-me todas as promessas do mundo. Falou-me de fé, enquanto a dourada claridade me acolhia doce, no seu colo. No calor do dia que se revelava e despertava em brilhos o campo ao meu redor, certezas tornavam-se inabaláveis. E a manhã falou-me de ti.

Escutei-a nessa luz dourada que me abraçava em sorrisos. Disse-me que te conhecia desde as primeiras letras desenhadas pelo Homem na terra agreste e dura de outrora, quando cometas rasavam a atmosfera fresca da Terra e ventos gélidos congelavam montanhas. Contou-me que também se cruzou contigo em imensas noites em que fogueiras eram acesas na praia e rituais de amor eram cumpridos.

E mais baixinho, a manhã falou-me sobre o poeta que és, amante de sonetos e paixões que rimam, silêncios em entrelinhas cruzadas e de outras manhãs douradas como esta, de sentidos espaçados à distância de um avançar de ponteiros do relógio. Reconheci-te logo. Já tinha estado também contigo: quando o sol irrompia majestoso entre os altos pinheiros, quando os montes dormiam castanhos ao embalo de uma tarde de calor sufocante, quando eu refrescava os pés na rebentação fresca de um mar coberto de reflexos prateados do sol do meio-dia. E desta vez, a manhã não falou. Calou-se para me escutar. E eu disse-lhe o teu nome: Esperança. A manhã acenou e permaneceu em silêncio a meu lado, enquanto os insetos voavam à luz que se expandia no avançar da manhã.

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