Estrela Tu
Podia ser a queda de uma estrela, essa que és tu, afinal. Mas não é assim que te assumo. Continuas a brilhar alto, uma imensa estrela no meio de tantas outras, talvez a mais colorida que dorme enroscada ao firmamento de veludo. Sei que deixaste expetativas soltas no tempo, palavras penduradas em árvores despidas, sonhos em rochedos onde só as gaivotas vão ao encontro das ondas do seu mar. Pedaços da tua alma permanecem flutuando nos anos que passaram e nos lugares por onde andaste, que te conheceram e amaram.
Sei que ainda esticas o braço na direção do céu, tentando alcançar recordações tombadas nas nuvens de madrugadas distantes; e que ainda olhas para lá da noite, onde o Universo te observa e interroga, no seu silêncio solene. Sei que procuras o reencontro de ti mesmo, demanda em dias que te abraçam entre neblinas, aves à deriva na respiração da Serra e nas saudades que, como dunas, te vestem o sono. E os ponteiros do relógio nem olham para ti...
Mas és estrela ainda, sempre! Ainda aquela tua luz, fotões em rodopio, que ofusca a minha adocicada alma. Aquele brilho emanado dos teus receios ainda me consome vontades. E ainda aquele sublime requinte de estrela, que não deixas de ser, desperta prazeres e amores.
Ainda tens esse teu secreto mundo onde brisas tocam as estações do ano, e o sol estende-te a compreensão da essência de tudo. Ainda és tu, poderoso, livre, capaz. Estrela viva, amante de chuvas e loureiros que embalam possibilidades. Ainda ocupas firme o teu lugar, quando mergulhões olham o céu e a lua reflete-se nas águas cristalinas do rio.
Nada te poderá demover, as estrelas são tão poderosas... e ainda és tu uma delas, a mais colorida, regras quebradas e essência que se renova em mim num reencontro.