Filho Meu
Hoje, enquanto olhava da minha janela as árvores da rua, apercebi-me do quanto sinto falta de assistir a um pôr-do-sol. Daqueles que acontecem num dia quente como o de hoje e que dão a tudo um tom entre o vermelho e o laranja. Um crepúsculo que faz o horizonte parecer imenso. Que evidencia o tom da terra meio seca, o verde das folhas, a relva que cresce selvagem, que projeta sombras longas no chão e até parece ter perfume próprio.
Ao fim do dia, também o meu Filho ficou demoradamente à janela, contemplativo, perdido nos seus próprios pensamentos. Olho-o, sem que ele se aperceba da minha presença. Até à sua chegada eu não sabia nada sobre o que significa amar. Nada! Como o amo! Tanto, dói na alma...
O meu Filho é crescido, alto, mais do que eu, porém, ao vê-lo naquela janela, pensativo, senti-o tão pequenino que só quis correr para ele e apertá-lo, abraçá-lo, mimá-lo, protegê-lo, dar-lhe colinho!
Aproximei-me dele sem perturbar o seu estado sereno. Permanecemos os dois à janela, em silêncio cúmplice, a ver a praceta, as árvores, as colinas relvadas, os baloiços coloridos, os cães risonhos a brincar. O sol a dourar tudo na sua luz pacifica, nostálgica, no calor de fim de tarde. Não foram precisas palavras, estavamos juntos.
Sinto a falta de assistir a um ocaso. Porém, aqueles doces minutos ao lado do mais maravilhoso ser que recebi na minha vida, valeram cada pôr-do-sol que pudesse assistir neste momento. A minha vida, o meu coração, tudo o que sou, tudo o que tenho, tudo o que faço, eu por inteira, tudo entrego em oração pelo meu Filho. A um Deus que amo e questiono. A esse Deus, a quem peço a proteção do meu Filho. Com uma tremenda fé.
O meu Filho, algo muito, mas muito acima de mim, a soma de todas as coisas mais belas alguma vez vislumbradas por mim e daquelas que eu jamais irei ver. Naquele doce ser reconheço a beleza das ondas do mar revolto, da águia poderosa e livre que voa no alto das montanhas, da força das águas da catarata que caiem a uma velocidade vertiginosa, da baleia que deslumbra ao saltar fora de água, das maiores migrações animais ao cimo da Terra, dos milagres das monções e do misterioso universo.
É exagero? Não, é apenas um Filho, o meu filho, que, por tudo aquilo que é, com todas as suas características muito próprias, merece todo o amor desta sua Mãe.