Fim de Semana
Tempo de repouso. Celebração. Para já, arrumo incertezas e orações, tudo fica para além da janela aberta à placidez da praceta e da cadência da música que toca baixinho atrás de mim.
Desce no meu íntimo a serenidade da hora, enquanto o fumo do café acabado de fazer sobe, indiferente às pressas finalmente desfeitas, e à sensação de tempo que agora roça a minha pele. É este o momento de esquecer ponteiros do relógio, esclarecer a simbologia do descanso, despir do corpo todas as roupas e afazeres. Objetivos primeiros: pousar dúvidas e promessas, inspirar as cores quentes da tarde que se abastece de folhas a abanarem à brisa morna, e sorver o ameno do dia dividido entre o balançar das estações do ano. Depois, apenas o clássico sabor de não ter obrigações a cumprir. O adágio de um banho de imersão, um gelado, um filme. Apenas isso e pouco mais, dentro da minha fé e do que realmente me importa.
Até porque a noite há-de chegar, feita criatura amante cheia de segredos e gestos simbólicos, insinuações com sabor exótico. E aí sim, sentirei todo o peso da leveza que se costuma sentir quando a sociedade não nos chama, e somos apenas seres de um universo ainda em fase de expansão e descoberta. Amar-te-ei mais um pouco então, no resgate da noite marginal e absurda de estrelas, lua em quarto crescente rasando o oeste e desejos.
Mas isso, será logo! Agora, apenas celebro feliz os adocicados afagos do descanso do dia, no requinte nu da alma aberta em riso ao mundo.