Fiquemos
Uma imensa paz. O sol doce de fim de tarde já se desfez todo no ondular salgado das águas mornas, que nos conhecem tão bem.
É esta a nossa hora secreta. Pousa a tua mão na minha e conduz-me onde sabes que quero ir. Leva-me ao nosso momento feito de oeste e de maré cheia.
Na vastidão parada do mar em ouro, que há muito espera por nós, somos corpos entrelaçados sem pressa, silêncio denso e brilhante, quebrado apenas pelo vagaroso remexer dos nossos gestos na procura um do outro. Reflexos dourados fundem-se com o molhado das nossas peles, e flutuam sem peso até à linha do horizonte invisível que nos ofusca em si.
Olho-te sem saber de que cor são os teus olhos. Parecem conter neles todos os mares, as idades do sol, as fases da lua, constelações imensas. Mas o beijo que me dás sei-o bem: tem a certeza da brisa, do crepúsculo, de risos, de verão interminável feito das letras do teu nome. Já lá estivemos antes...
O beijo, que escorrega no nosso abraço lento, coberto das gotículas transparentes que refletem as cores do ocaso. O beijo, que assiste connosco ao pôr-do-sol num mar eterno, sem ondas nem sombras. O beijo, que se prolonga até ao mergulhar das horas nas asas das gaivotas presas ao poente.
A noite há-de chegar imensa, carregada de segredos e estrelas, para nos acolher, simples aprendizes, em si. Tu és ser da noite, fiquemos. Não foi para isso que viemos de tão longe, para o amor acontecer?