Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Apelo

12.10.20 | Sandra

356059_M.jpg

O sono faz-se presente mas não quero dormir. Sinto lá fora o apelo da noite, baixinho, quase inaudível. Leve, discreto, solene. Nunca consigo negar-me à vontade da noite quando esse chamamento se faz ouvir. A imensidão do universo que se pressente para lá do visível devora-me a alma. Não é só o céu escuro onde estrelas se abandonam à lua. É tudo, tanto mais! Distâncias tremendas entre objetos espaciais. Galáxias gigantes que em lentos rodopios varrem espaços cheios do quase nada. Planetas cujos movimentos emitem sons que só sofisticados aparelhos conseguem captar. Órbitas que contrariam as leis da física. Colisões e explosões que se julgavam impossíveis de acontecer. E o mistério de tudo. O mistério do primeiro começo, do princípio e do fim, da transformação, do inalcançável. E a sede de querer saber, querer descobrir, querer ver. Na sua generosidade, o firmamento deixa-nos contemplar no seu silêncio as estrelas da noite. É a elas que me entrego sem pressa. Antes que outras noites venham, esta se fará dia. Mas antes ainda, enquanto o mistério flui entre mim e a noite, sou tocada por um outro mistério paralelo ao céu de cetim preto.

Sei que estás algures neste mundo nosso, dormindo, ou olhando as mesmas estrelas que eu, tanto faz. Não sei a que distância real estás de mim, mas na noite, nesta precisa noite, estás mesmo aqui. Porque sim. Porque eu quero. Porque tens em mim o mesmo efeito da noite: fazes-me sentir um apelo, um chamamento ao qual não consigo negar-me. Ganhaste.

1 comentário

Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.