Hoje
Fim de dia na penumbra quente do quarto. Lembro-me de ti, um pensamento vivo, real, insistente. E não o afasto. O tempo parece parar dentro de mim, em meu redor, e fica só a entrega, o sentimento, a vontade. O sonho… e tu. Houve uma altura. Estivemos perto mas o tempo passa, opera grandes mudanças. Contudo, o teu olhar é igual. O teu olhar... não sei lutar contra o poder que tem sobre mim. E nem quero!
Seria hoje. Se possível, seria hoje. Na sensação de proximidade que a meia-luz cria, cercados por um tempo sem pressa, envoltos por significados, falaríamos então sobre o tanto que tem ficado retido. Numa fluída conversa entre tranquilos silêncios, toda uma expressão de sentimentos, quereres, desejos. Sem inibições. Sem constrangimentos, preconceitos ou culpas.
A tua imagem continua a insinuar-se no meu pensamento. Não é amor. Poderia vir a ser um dia, não sei, mas neste momento, mesmo não sendo algo tão puro como o verdadeiro amor, é igualmente poderoso. E anseio-te mais do que nunca.
As horas avançam. O meu bom senso diz-me que o melhor a fazer é escolher um bom livro, e esquecer na leitura este meu desalento, de não estar neste exato momento a desfrutar da tua companhia. Contudo, a mente humana é poderosa e prega partidas. Sei que entre cada sílaba, frase e parágrafo, estarei a ler-te a ti, quase de forma inconsciente. E sei que ao virar de cada página, irei rever a tua imagem. São estados de alma que escapam ao meu controlo. E não me importo por aí além... ciente do que irei ou não alguma vez alcançar, ao menos, nos meus pensamentos tudo posso, tudo consigo.