Jardim ao Campo
Havia um jardim. Nem grande, nem pequeno. Teu, de toda a gente. Plátanos e palmeiras recitavam sonetos à sequoia e ao cipreste, enquanto o sol se despia no céu acima das copas imóveis
das árvores-de-fogo. No coreto sem tempo brincavam as horas que aguardavam a minha confissão (a ti, se te encontrasse...). Pelos bancos de madeira sentava-se orgulhoso o nome do professor-poeta, dado ao jardim do bairro que assistiu a paradas. No parque infantil explodiam as gargalhadas e os risos do imaginário das crianças,"Sou o Super-homem!", e pombos voavam para longe. A dama de estátua em pedra olhava agitada a minha busca por ti! (Se ela pudesse ter-me dito onde estavas tu...). No lago deslizavam entre os patos todas as minhas perguntas, respostas não conseguidas, o falhar da surpresa que te quis fazer: "Estou aqui!".
Há um jardim. Conheceu-te, já te viu passar, feito brumas, talvez. Deixei-o para trás no centro do bairro que é Campo... Mas trouxe dos canteiros a sensação de teres caminhado comigo ao longo daquelas minhas horas mistas de busca e passeio, enquanto o quiosque, vagabundo como tu, espreitava-me os passos. Valeu a pena. E vendo bem, é assim que tudo deve permanecer. A incógnita. Jardim da Parada, talvez? Sim. Isso mesmo...