Jardim Visconde da Luz
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores à porta do Visconde da Luz, ainda vazio aquela hora.
Agitam-se as ruas típicas da vila numa confusão alegre. Hoje o jardim urbano, que viu nascer séculos, aparenta um certo ar de descontração, festividade. Os barulhos que vêm do quiosque de ferro trabalhado, junto com as vozes dos empregados e o aroma a café e torradas, são música de fundo para a esplanada fresca, cheia de conversas tranquilas e gargalhadas despreocupadas. Sento-me no único lugar vazio.
Entre hortênsias e amores-perfeitos, sob plátanos inquebráveis e coloridas laranjeiras, alguns turistas deitam-se no relvado de um tom verde desbotado. Um cão acalorado olha desconfiado para o gato do jardim, que cobiça sem grande convicção os pardais que saltitam à sua volta, à distância de um curto salto.
Hoje o carrossel está parado. Ao lado, encostado à fonte de pedra lisa e águas esverdeadas, um estrangeiro toca uma música italiana na sua concertina colorida. O calor adensa-se nas sombras quietas, estica-se nos bancos, na relva, nos muros baixos que sabem mais que os taxistas, que sem clientes, conversam encostados aos seus carros. Calam-se quando um grupo animado entra no Jardim dos Frangos.
Mistura-se o silêncio do avançar da manhã ao falar das folhas secas, que os plátanos emprestam ao outono quente. O tempo para, tal como o movimento junto às bancadas de antiguidades e artesanato. E eu, saboreando descontraída um café, na esplanada sempre cheia, desejo-te ali ao meu lado neste dia de sol espevitado, quando Cascais se esquece de que já não é verão.
Nota: para saber mais sobre este jardim, visitar o link https://www.visitasvirtuais.com/local.aspx?id=JardimViscondeDaLuz