Luz Dourada
Renovo-me ao caminhar por extensos campos. Neles, sou todos os sonhos possíveis. E bebo, deliciada, a liberdade do ser e do estar - como se tudo o que menos bom há não tivesse lugar em toda aquela vastidão.
Em tardes douradas de sol quente, no céu alto voam as aves. Rasgam o azul infinito, sem nuvens nem pressa. Na terra seca, pálida, ervas e flores selvagens libertam aromas próprios, que pairam intensos à minha volta. Caminho por caminhos não traçados na hora adormecida do calor, e perco-me para me encontrar de novo. Em tempos, passeava já assim pelos campos, de alma leve e imensa, do tamanho da imensa extensão que me rodeava. A paz de outrora resistiu a estações e ciclos, e ainda hoje pressinto-a nos campos, ao ondular das ervas secas numa dança acesa e sincronizada sob o vento suão que sopra.
No descanso das horas intermináveis, a poesia faz-se desejo, que se eleva à cadência dos sons do campo presentes em todo o lado e ao mesmo tempo: a secura das plantas, o chiar das aves, o zumbir dos insetos, o avião que rasga o firmamento alto deixando um traço branco, fino, cortante. E é envolta pelos sons, cheiros, tons do campo, que busco o que de ti tanto quero, ali, na luz loira.