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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

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Manhã na Praia

04.12.20 | Sandra

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É cedo ainda. Passeio pela praia. A maré cheia da noite passada deixou o areal molhado até ao paredão. Por todo o lado, pegadas de gaivotas e ramos partidos. Mais à frente, dois cães perseguem aos saltos um pombo solitário, que parece divertir-se com a situação, provocando-os e fugindo às suas investidas. Mais um cão junta-se à perseguição e o pombo afasta-se de vez para longe. Está muito mais frio que o habitual. Grossas e imensas nuvens cobrem o céu com um tom cinzento-escuro, ameaçando temporal. A praia tem um ar gelado, desolado, nostálgico.

O vento sopra agora muito forte. Ao lado das rochas um grupo de adolescentes solta os seus papagaios ao alto, afastados entre si, para os barbantes não se prenderem uns nos outros. Conversam num tom de voz muito elevado, não só por causa do barulho do vento mas também por causa do imenso rugido do mar, que abafa todos os outros sons à sua volta. Ondas começam a formar-se ainda longe e não param de ganhar altura até à zona de rebentação. Aí, desfazem-se com um enorme estrondo, umas após outras, deixando a pairar no ar como que uma chuva lenta, e na areia uma espuma grossa, branca. Na zona do pontão pescadores arrumam à pressa canas, baldes e variados apetrechos, lutando contra o vento impiedoso. Bandos imensos de gaivotas brancas e cinzentas refugiam-se na segurança da areia atrás das pedras, longe da água.

Começa a chover com força, grossas gotas de água, geladas, vindas de todas as direções ao mesmo tempo. O único café aberto aquela hora serve-me de abrigo. Está muito calor no seu interior. Olho à minha volta. Imagino como seria descobrir-te ali, por acaso, entre aquelas gentes, num golpe de sorte que tornaria o nosso primeiro encontro mais fácil. Reconhecer-te-ia?

Mas tu não estás e tudo parece subitamente mais vazio, mais sem sentido, apenas porque desejei algo que não aconteceu. A chuva parou. Saio para a esplanada coberta por um enorme toldo desbotado, para melhor apreciar o mar revolto e o céu agreste, os cães em correrias loucas à volta de nada, e as pessoas que já se espalham de novo pela areia dura e gelada. Sinto tanto a tua falta, era ali, naquele momento, naquele lugar, que gostaria de te encontrar, enfim.

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